Igreja católica, diversos movimentos sociais e entidades se reúnem no distrito de Botafogo em protesto contra mineração no território
Localizada a 8 km do centro histórico de Ouro Preto, a comunidade de Botafogo e a tradicional Capela de Santo Amaro foram escolhidas para sediar a Romaria neste primeiro de maio. O motivo foi a alta procura e início dos trabalhos de mineradoras na localidade. Estiveram presentes os deputados federais Célia Xakriabá (PSL), Padre João (PT), o deputado estadual Leleco Pimentel (PT), o vereador Kuruzu (PT) e diversas entidades, sindicatos e movimentos representados. Todos tiveram falas sobre as pautas em tom de luta contra a mineração e os religiosos presentes prestaram homenagens a São José Operário.
O evento começou por volta das 7 da manhã com um farto café da manhã. Marilda Dionísia, mobilizadora social e presidente da APAOP (Associação de Proteção ambiental de Ouro Preto) foi uma das responsáveis por alimentar os romeiros:
“A Arquidiocese entregou para a gente a responsabilidade de cuidar da da alimentação que é uma coisa que nos preocupa muito, principalmente pela segurança das pessoas. Para a gente, estar aqui hoje participando dessa Romaria é uma realização mais que pessoal, porque quando a gente trouxe ela para cá, o intuito foi mostrar para o estado de Minas o quanto esse aquífero e essas terras são ricas em água e precisam ser livres de mineração.”
O deputado Leleco Pimentel esteve no palco com seu violão desde o primeiro momento, ainda durante o café, entoando louvores, cantos de luta e músicas populares. Ele coordenou as falas dos presentes, entre eles: a CUT (Central Única dos Trabalhadores), MAB (movimento dos atingidos por barragens), FLAMa (Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração), ADUFOP (Associação dos Docentes da UFOP), Pastoral Afrobrasileira, SINASEFE (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), SindUTE (Sindicato único dos trabalhadores em educação de Minas Gerais), Sindicato Metabase Mariana e outros. As pautas levantadas incluíram principalmente a mineração predatória, preservação ambiental, indenização dos crimes ambientais já praticados e a greve na educação.
Tuani Guimarães, estudante de direito e representante da FLAMa, nesta quarta feira teve uma fala sobre a luta e importância do engajamento popular nos temas pautados no encontro:
“A gente se junta e não aceita esse modelo de mineração que só mata rio, mata povo mata gente. coloca debaixo de lama o nosso patrimônio histórico nosso patrimônio cultural construído sobre as mãos dos trabalhadores e das trabalhadoras. A mineração e a água são elementos fundamentais para a gente, desde que estejam nas nossas mãos.”
Muitas pessoas de regiões próximas chegaram ao longo da manhã, em caravanas vindas de Viçosa, Congonhas, João Monlevade e Mariana. Os bancos ficaram lotados e o gramado da Igreja de Santo Amaro estava sob os pés de dezenas de fiéis. Os habitantes de Botafogo presentes consideram importante a realização do evento na comunidade, Nedina Ferreira de 66 anos afirmou que “ É uma alegria pra gente receber as outras comunidades”. A professora aposentada Jussara do Rosário, professora aposentada, deu destaque ao local que recebeu os romeiros:
“A Capela de Santo Amaro é o elo dessa comunidade, é onde todos se encontram. E hoje é um momento muito importante porque esse encontro é maior, com outras comunidades que estão passando pelos mesmos conflitos e sempre envolvem a mineração. Botafogo não é um lugar de minerar, é lugar de preservar. Por isso que a gente acolheu a Romaria. Espero que a gente consiga barrar a mineração.”
A Arquidiocese de Mariana frisou as prioridades pensadas na organização, Bruna Monalisa é professora no município de Ouro Preto e responsável pela dimensão sociopolítica, afirmou que a Romaria dos Trabalhadores é o momento onde a “população coloca suas pautas como prioridade no debate” e o Padre Marcelo, responsável também pela programação, falou do embate dos processos de licitação para minerar em áreas de preservação em Botafogo. O deputado federal Padre João contou que o dia do trabalhador, é tradicionalmente, dia de denúncia popular.
Após os discursos e pronunciamentos, iniciou a peregrinação pela BR 356, com imagens de fé e bandeiras de luta a Romaria prosseguiu até a entrada seguinte para voltar à comunidade para a missa, estavam presentes nove padres. Representantes de Botafogo seguraram simbolicamente alimentos produzidos no território como milho, trigo, pitaya, mel e flores. O evento se encerrou com almoço e conversa entre os romeiros.
Simultaneamente durante todo o evento, havia uma exposição com fotos e depoimentos de moradores do distrito. Na mesma sala foram exibidos fragmentos do documentário em andamento produzido pela jornalista Líria Barros, que cresceu na localidade, sobre a Mineração em Botafogo. Ela contou ao Diário de Ouro Preto que a população que lá reside, é a responsável por preservar o que é de interesse das mineradoras, destruir.
Os deputados e vereador presentes, apresentaram o projeto de lei 1116/2023 que “Declara como patrimônio ambiental, histórico, cultural, religioso, turístico, paisagístico, hídrico e social, de natureza material e imaterial de Minas Gerais, a Serra do Botafogo (também conhecida como “Serra de Ouro Preto” e “Serra do Amolar”), em Ouro Preto.” e aguarda votação para ser aprovada.
Por Clara Lamacié- texto e fotos