Mariana –
As manifestações contra a Samarco e a Renova realizadas nos últimos dias mostram a perseverança dos atingidos, os quais tem o apoio da Arquidiocese de Mariana. Na noite de ontem (5/11), foi celebrada uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Mariana, pelo Arcebispo Airton José dos Santos em memória aos 4 anos do rompimento da barragem de Fundão. Os ex-moradores de Bento Rodrigues, Paracatu e Gesteira, distrito de Barra Longa, participaram da celebração.
Antes da missa os atingidos saíram da frente do centro de convenções e seguiram em marcha pelas ruas do centro até a igreja de Nossa Senhora do Carmo, durante o trajetos os manifestantes apresentavam suas situações e as perdas que julgam irreparáveis.
A marcha seguiu com poucas adesões dos pedestres. Em um caso se viu um popular hostilizando a manifestação, dizendo que são desempregados trazidos de outras cidades. O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) informou que caravanas de cidades atingidas pelos desastres de Mariana e Brumadinho estiveram em Mariana ontem.
Da região do rio Doce estiveram presentes participantes das cidades de Barra Longa, Bom Jesus do Galho, Cachoeira Escura, Mariana, Naque, Ipatinga, Itueta, Periquito e Resplendor.
Da bacia do rio Paraopeba estiveram presentes representantes das cidades de Brumadinho, São João de Bicas, Pompéu, Curvelo, Betim e Mário Campos. Também estiveram presentes manifestantes do vale do Jequitinhonha.
Em sua homilia, Dom Airton ressaltou que é necessário “acolher e apoiar as pessoas. Elas precisam se sentir amparadas. A palavra que deixamos é que não pode morrer a esperança”.
Se referindo às reparações, o arcebispo disse que os atingidos precisam ser atendidos. “Aconteceu em Bento Rodrigues, aconteceu em Brumadinho, nos perguntamos quando será o próximo.Não queremos isso. Queremos sempre o bem comum.”
Sobre as reações contrárias aos pleitos dos atingidos, Dom Airton disse que “não podemos aceitar o desrespeito. As pessoas estão em nosso coração, porque elas viveram um acontecimento inesperado”. O Arcebispo registrou a presença do promotor de Justiça, Guilherme Meneghin que assistiu a missa.
Paula Geralda Alves, que ficou conhecida como “Paula da Moto”, e foi responsável por informar aos moradores de Bento Rodrigues do rompimento e garantir o autossalvamento de praticamente toda a comunidade, disse que a demora em reconstruir a comunidade está deixando os atingidos em Mariana desmotivados a manifestarem. “Depois de 4 anos, ainda não temos nossa casa,o povo está desanimado, as coisas estão muito atrasadas, hoje tem duas casas levantadas no novo Bento. Tem muita gente mandando e acaba que o trem não anda”.
Para Enir Pinto Bento, moradora de Gesteira, distrito de Barra Longa, o que mais lhe dói é não poder plantar, pois seu quintal foi destruído. “Eles falam que a gente não pode plantar em cima do rejeito. Plantávamos feijão, milho, mandioca, banana e tínhamos horta”.
Encerrando a celebração os atingidos seguiram para o altar com cartazes lembrando o ocorrido e as perspectivas da reparação.
