Mariana – A praça Minas Gerais recebeu novamente os atingidos do Rompimento da Barragem do Fundão, que completou 9 anos, nesta terça-feira, 5 de novembro. Esse dia é marcado por muita luta de todos os atingidos, além de ser uma marca do sofrimento que ficou para as comunidades de Minas Gerais, Espírito Santo e do sul da Bahia. 

Os atingidos buscam justiça atualmente em Londres, uma vez que a Repactuação assinada no último mês não os contemplou da forma que consideram necessária e justa. 

Joceli Andrioli, membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) explicou a consideração do movimento em relação ao novo acordo: “Hoje, completando 9 anos do crime da Vale, da BHP e da Samarco em Mariana, atingiu toda a bacia do Rio Doce, litoral Capixaba, e o sul da Bahia. Infelizmente, até hoje ninguém foi punido, processo criminal praticamente parado. Há um ano atrás eles começaram a ouvir as primeiras testemunhas e até agora nada. Do ponto de vista cívico, a novidade é o acordo, o novo acordo, são vários acordos já não cumpridos durante esses 9 anos e agora teve o acordo chamado de repactuação, no qual os atingidos novamente não tiveram direito de participar. O movimento fez muita luta durante esse período para tentar garantir que a lei se cumprisse, porque nós conseguimos há um ano atrás a Política Nacional dos Atingidos por Barragem, que hoje é uma lei que obrigaria a ter a participação dos atingidos para construírem os planos e, de fato, ajudarem como sujeitos do processo. E esse direito foi negado até agora porque as empresas não permitem. E o judiciário brasileiro se declarou frágil e incompetente para dar conta de resolver questões como esses crimes complexos que aconteceram no Brasil. A gente não admite isso, a gente sabe que é uma desculpa para fazer o caminho mais fácil, porque é o acordo onde os atingidos não participam e que daí eles decidem em gabinetes. Esse acordo, obviamente, tem uma falha muito grande, que é o direito individual, onde as empresas, em virtude da ação inglesa, não acordaram um direito adequado aqui. Eu imagino que elas sabem que ou vão ser condenadas em Londres a pagar ou vão fazer um novo acordo. E, portanto, ficou bastante complicado isso, porque exige que o atingido para acessar 35 mil ou 95 mil, se for pescador e agricultor, vai ter que dar um termo de quitação em relação aos direitos, tanto na justiça aqui no Brasil como lá no exterior. E, portanto, o próprio ministro Barroso declarou publicamente que um dos motivos de fazer o acordo mais apropriado aqui era para não ter um acordo lá fora, para não desmoralizar o judiciário brasileiro, porque não precisa, porque já está desmoralizado. E, portanto, nós seguimos na luta.”

Como forma de homenagear os entes queridos que se foram, foram plantadas mudas com os respectivos nomes no território de origem de Bento Rodrigues.

Durante a tarde, as comunidades junto com o MAB, representados também pelo Revida Mariana, fizeram uma manifestação que contou com uma caminhada até a Praça Minas Gerais. 

Joceli também considera que agora a luta mudou, e que continua ainda mais forte: “Seguimos na luta porque teve conquistas também, através da nossa luta, vários programas coletivos que foram, inclusive, propostos por nós, não na mesa de negociação, mas nas bilaterais, com as instituições, com os governos, etc., onde vários programas foram aceitos, programas importantes que vão dar condição de fortalecer a luta e os direitos, como exemplo, o Fundo de Saúde, um fundo de 12 bilhões. Boa parte do recurso vai ser o Fundo. Do perpétuo, que vai, o seu rendimento investido em saúde, mas um bom dinheiro para fazer estudo de fato, que a população está contaminada, está morrendo de câncer e colocar isso no acordo. Então, tem a garantia, se nós conseguirmos levantar isso, a empresa vai ter que pagar, vai ter que indenizar, isso não está nas causas de quitação, que é uma coisa importante. Também um fundo para projetos coletivos, dinheiro para agricultura, para pesca, para as mulheres. Um bilhão, uma luta histórica, o preconceito, a discriminação, a desigualdade que as mulheres sofreram durante todo esse período e portanto a luta segue. Nós estamos falando que esse é um novo momento, é uma nova etapa de luta, tivemos várias conquistas até aqui, tem muita coisa ainda pela frente e só perde uma luta quem abandona ela.”

Por Marcella Torres

Reportagem e Fotos