Victor Stutz, para o Diário de Ouro Preto

Tudo começou com a chegada da informação de que todo o estoque da antiga Carpintaria Ipê, na Barra, havia sido doado pela família de Jayme e Geralda Vasconcellos Bastos para o Lar São Vicente de Paulo, o abrigo dos idosos de Ouro Preto. O estabelecimento comercial do casal, já falecido há tempos, foi um dos mais tradicionais da cidade. Nesta sexta-feira, 27, o Lar São Vicente enviou uma caminhonete para buscar os materiais doados, que certamente vão ser muito úteis em reformas e manutenção da casa ou até mesmo comercializados, para arrecadar fundos para a entidade. Mas era tanta coisa que será preciso fazer várias viagens, ou voltar de caminhão.

A história de boa vontade e doação protagonizada pela Família Bastos terminaria aqui se não fosse por uma inusitada coincidência. No mesmo dia, o jornalista Paulo Boa Nova, em seu perfil pessoal na rede, publicou um relato interessantíssimo sobre o mesmo tema, desapego, e o que ele contou nos leva a pensar se as coisas realmente acontecem por acaso. Coincidentemente (será?), o jornalista ainda possui laços bastante estreitos com Ouro Preto e a nossa narrativa inicial: os fundadores da Carpintaria Ipê, o velho Jayme e dona Geralda eram seus avós maternos.

A seguir, a íntegra do texto publicado por Paulo Bastos Boa Nova, jornalista de Belo Horizonte,morador do bairro da Serra, que aproveitou a ocasião para também nos fazer lembrar que, “como já dizia o psicólogo suíço Carl Jung, em sua Teoria da Sincronicidade, as coincidências não existem, são fruto de manobras do inconsciente”. Depois de ler essa história de Boa Nova, cabe ao leitor tirar as suas próprias conclusões.

O CERTO POR LINHAS TORTAS – Paulo Boa Nova, em sua rede social – “Tenho que contar essa história. Comprei uma geladeira nova e, enquanto ela não chega, resolvi ir atrás de alguém que pudesse receber de presente a atual, buscando-a na minha casa. Ela tem 25 anos de serviços prestados, mas está funcionando. Perguntei a alguns amigos se conheciam alguém que pudesse ficar com ela, e a Maria Cláudia Brandão me deu o telefone do BH Recicla. Mesmo preferindo doar diretamente para alguém que precisasse, resolvi ligar ontem. Vai que eles tem algum projeto social, pensei. Atendeu a Letícia, que disse ter todo o interesse em ficar com a geladeira, e com as velhas traquitanas eletrônicas também que eu já sabia que eles recolhiam. Achei estranho que no perfil do Whatsapp estava a foto da mulher, e não a logomarca do BH Recicla mas, beleza, ela se interessou. Disse inclusive que estava precisando de uma geladeira. Combinamos então que, assim que a minha nova chegasse, eu tornaria a fazer contato pra ela providenciar o carreto.

Hoje ela me escreve toda curiosa, perguntando como é que eu consegui o telefone dela. Eu respondi que uma amiga me passou o telefone do BH Recicla e eu liguei. Ela só respondeu “Ahhh sim”, mas aí fui eu que fiquei encafifado. Fui conferir os telefones e vi que o final do nº do BH Recicla é 3996, e eu liguei, por engano, 3396. Atendeu uma diarista desempregada, cuja geladeira queimou e ela, sem dinheiro, vinha rezando todas as noites para que Deus a ajudasse. Contei pra ela o engano do número e ela só respondia “foi Deus, foi Deus, tô arrepiada, Paulo”. Eu nem contei que meu sobrenome é Boa Nova, senão ela poderia invocar o Evangelho! Eu iria doar para alguém que estivesse precisando, mas vou fazer essa boa ação específica por causa de um engano. Distraídos venceremos!”

Desapegue também! Você pode começar participando da Campanha do Agasalho da sua cidade. Para doar ou descartar eletrônicos e eletrodomésticos, entre em contato com o ECO PONTO (Rua Jorge Caram 40, bairro Pocinho).