Por: Kátia Maria Nunes Campos
Todo mundo conhece ou já ouviu falar das famosas cavalhadas (orgulho do nosso notável distrito de Amarantina) ou batalha dos cristãos contra os mouros. Entretanto, poucos conhecem a verdadeira origem das cavalhadas que, no Brasil, não começou em províncias antigas, como a capitania de Minas Gerais. Não é coisa que surgiu no Brasil. Isso vem de longe no tempo e no espaço. Começou lá no norte da África. Mais precisamente, no território do Marrocos.

Ocorre que Portugal instalou por lá mais uma de suas colônias africanas, denominada Mazagão, que durou de 1514 até meados do século XVIII. A palavra Mazagão é apontada como originário do idioma árabe da tribo berbere (Mazerghan) e significa “água quente” Mas, diante da resistência dos nativos e das inúmeras batalhas perdidas, Portugal desistiu e transferiu toda a população desta colônia do Marrocos para o Brasil. Em números, foram mais de 20.000 pessoas transferidas e cerca de 163 famílias chegaram ao Brasil em 1770, para a região amazônica.
Em outras palavras, as cavalhadas atuais perpetuam a falsa noção de que os cristãos portugueses foram os vencedores e os mouros, os perdedores. Só que não é verdade. Foram expulsos e estes cristãos vieram para o Brasil. Perderam feio e saíram todos de lá, mudando-se para uma nova cidade, no atual estado do Amapá. Aliás, recentemente foram descobertas mais ruínas de Vila Nova de Mazagão, na cidade de Mazagão Velho, com uma fortaleza exatamente igual à fortaleza marroquina levantada por portugueses
Foi daí que se começou a tradição de recriar uma das dezenas de batalhas entre os naturais marroquinos (ou mouros) e os cristãos. E a festa começou em 1777, em louvor ao apóstolo São Tiago. A festa das cavalhadas do Amapá foi dedicada a este santo, pois reza a lenda que Sâo Tiago lutou a favor dos cristãos, juntando-se às batalhas de forma anônima e disfarçado. Bem, não ajudou muito… Dali, muitos descendentes se espalharam pelo Brasil, inaugurando a festa em Goiás Velho e, na mesma época, no município de Ouro Preto, em meados do século XIX, com algumas diferenças regionais, mais ou menos alteradas em relação à pioneira.
As crianças têm sua própria batalha, em cavalinhos de pau, e a festa começa com a figura do Bobo Velho sendo bombardeado com bagaços de laranja. Este personagem existiu de fato, tinha este nome e atuou como espião mouro entre os cristãos. Enfim, a festa é tão importante para a economia do Amapá e atrai tantos turistas que a secretaria de turismo aportou uma verba de 1,2 milhões de reais, neste ano de 2023.
Vamos e venhamos: esta história não é um luxo?
Fotos:Divulgação Governo do Estado do Amapá