Por Kátia Campos

No próximo 7 de setembro de 2022, comemoraremos uma data ansiada por todos os brasileiros. É um aniversário e tanto, apesar de que o Brasil ainda luta para ser a mãe gentil de todos nós. Enfim, a parte da História em que D. Pedro grita “Independência ou Morte”, todo já sabe, incluindo os nativos e moradores de nosso querido distrito. 

O que a população de Antônio Pereira não sabe (e acho até que nem desconfia) é que tem um herói filho da terrinha, envolvido até o pescoço na nossa independência. Merecia ser lembrado e celebrado por isso, mas tem sido ignorado e esquecido. Em todas as capitais e várias cidades importantes, ele é nome de ruas e escolas. É só dar uma espiadinha no google e vai encontrar citações e até sua biografia. Em Belo Horizonte, a rua com seu nome fica em Santa Tereza.

Estou falando de José Joaquim da Rocha, conselheiro do imperador D. Pedro I, um pereirense de peso e medida. É também conhecido como Conselheiro Rocha. Aliás, por ocasião do primeiro centenário, em 1922, Alfredo d’Esclagnore Taunay escreveu um livro dedicado aos grandes vultos da Independência e dedicou um capítulo inteiro ao Conselheiro Rocha, destacando a fundação de um clube secreto, no Rio de Janeiro, dedicado a promover a independência. 

Sendo excelente escritor, José Joaquim escrevia panfletos anônimos, distribuídos nas ruas do Rio de Janeiro, conclamando a população para que aclamasse D. Pedro como imperador do Brasil. Foi ele um dos que convenceram o príncipe a não obedecer as ordens da corte portuguesa e voltasse a Portugal. O mais interessante é que José Joaquim foi o autor do célebre discurso do “Fico”, incluindo a frase: “Se for para o bem de todos e felicidade geral da Nação, diga ao povo que Fico!” 

Caros pereirenses, sabiam disso? Não é minha imaginação, é fato histórico, relatado no livro “O Fico: Minas e os mineiros na Independência” de autoria do historiador Salomão de Vasconcelos, também publicado às vésperas do Centenário de 1922. Outros livros sobre o movimento da Independência falam do notável conselheiro como figura central.

Sua mãe, Joana Inácia Teodora Xavier Maciel era filha de Domingos Álvares Maciel, portanto, o Conselheiro Rocha era neto do inconfidente José Alvares Maciel, pai. O testamento de Joana Inácia pode ser lido na Casa Setecentista de Mariana e o assento de batizado de Joaquim José está na Sé de Mariana, no dia 19 de outubro de 1777. 

Quando nasceu, sua mãe era solteira e foi considerado exposto, até que o casamento dos pais o legitimaram (recebeu o nome do pai, também José Joaquim da Rocha). Seu irmão, João Severiano Maciel da Costa foi seu companheiro de luta, recebendo o título de Marquês de Queluz. Não tenho certeza se ele também nasceu em Antônio Pereira (o assento de batismo o dá como nascido em Mariana). O ilustre Marquês de Queluz foi um dos primeiros a falar em prol da extinção do regime escravista, lá no comecinho do século e até escreveu “Memoria sobre a necessidade de abolir a introdução dos escravos africanos no Brasil : sobre o modo e condiçõis com que esta abolição se deve fazer; e sobre os meios de remediar a falta de braços que ela pode ocasionar”. Foi publicada em 1821, Universidade de Coimbra”. O texto está na internet.

Quando José Joaquim nasceu, Antônio Pereira ainda era distrito de Mariana, como é citado na sua biografia. É uma longa história e vou deixar a mudança para distrito de Ouro Preto para uma outra ocasião. 

Voltando ao ilustre filho de Antônio Pereira, sua história é linda e comovente e devia ser ensinada nas escolas de Ouro Preto. Era advogado e conhecido por atender aos pobres de graça e cobrar dos ricos apenas o que era justo, nem mais nem menos. Trabalhou até à morte para sustentar a família.

Em sua edificante existência, passou por muitas agruras e por muitas glórias, morrendo doente, cego, pobríssimo e esquecido. Foi amigo chegado de José Bonifácio Andrada quando o velho patriarca foi desterrado pelo imperador, ele também o foi, seguindo ambos no mesmo navio para a Europa, junto com seus dois filhos. D. Pedro I foi extremamente ingrato com os grandes da Independência a quem devia o trono do Brasil. Enfim, para terminar essa belíssima história, José Joaquim da Rocha é patrono da cadeira n.º 49 do Instituto Geográfico e Histórico de Minas Gerais e, sobre ele, Osório Couto escreveu um longo elogio do qual copiei o seguinte trecho”

José Joaquim da Rocha foi membro fundador, em junho de 1822, da “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”. Também em dezembro de 1822 recebeu o título de “Dignitário da Ordem Imperial do Cruzeiro”. Foi deputado por Minas Gerais à Assembleia Constituinte brasileira de 1823. Com o fechamento arbitrário da Constituinte sete meses depois por Dom Pedro I, foi preso e deportado para a França, permanecendo lá até 1830. A prisão se deu no dia 12 de novembro de 1823, onde permaneceu até o dia 20. Junto com seus familiares, embarcou com destino ao porto do Havre, a bordo de uma velha charrua, a “Leucônia”, sob o comando do capitão-tenente Joaquim Estanislau Barbosa. Com Rocha, foram: Francisco Gê Acayaba de Montezuma (Francisco Gomes Brandão), os irmãos Antônio Carlos, Martim Francisco e José Bonifácio Andrada e Silva, padre Belchior Pinheiro Oliveira, e os filhos de José Joaquim da Rocha, Inocêncio e Juvêncio Maciel da Rocha. As despesas de transportes não foram pagas aos Rochas. De volta do exílio, recomeçou a vida voltando à profissão de advogado. 

Dom Pedro caiu logo; não soube segurar a onda. A Regência, vendo a lacuna do patriota José Joaquim da Rocha, nomeou-o, cinco dias depois da abdicação do Imperador, Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil em França. Em 1834, Rocha foi mandado para Roma, por ser excelente diplomata, criterioso e atilado; sim, atilado, pois escrupuloso, hábil, fino, prudente, minucioso, apurado, elegante, e, diante de uma questão melindrosa que surgira e poderia afetar as boas relações do Império com a Santa Sé, o Vaticano o esperava como Ministro Plenipotenciário do Brasil.

Em 1838, voltou ao Rio e à sua advocacia. Estava pobre, velho, com as forças esgotadas. Manteve a si e a família com dignidade. Poucos anos depois, veio-lhe a cegueira, mas continuou a trabalhar ávida e conscientemente. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do qual era ilustre membro, veio em seu socorro, sugerindo ao novo Imperador que não se esquecesse de um venerável patriarca da independência nacional e com vários serviços prestados à pátria. Dom Pedro II concedeu ao capitão-mor e conselheiro José Joaquim da Rocha uma pensão de 1:200$000 anuais. Ainda foi homenageado com o “Hábito de Cristo”.

Domingos José Gonçalves de Magalhães, médico, professor, diplomata, político e poeta, barão e depois Visconde do Araguaia, introdutor do romantismo no Brasil, autor de “A confederação dos Tamoios”, fez em Roma, em 1835, um poema de 15 estrofes de seis versos cada, homenageando José Joaquim da Rocha.

O herói José Joaquim da Rocha morreu no dia 16 de julho de 1848. Dom Pedro II mandou fazer o funeral do mineiro ilustre, do seu bolso. O IHGB nomeou o poeta Manuel de Araújo Porto Alegre, depois Barão de Santo Ângelo, para o discurso, e levou uma coroa do Brasil, em nome da Pátria e do Instituto histórico, e o proclamou como “o primeiro motor da nossa história”, o motor da Independência.

Bem-aventurado foi José Joaquim da Rocha, que sempre esteve firme e alicerçado sobre a rocha que São Mateus nos fala em seu Evangelho. 

Excerto de Ozório Couto, membro do IHGMG, publicado no site da instituição”

Enfim, meus conterrâneos do querido distrito de Antônio Pereira, esta é a minha singela contribuição como parte da alegria do Bicentenário e provando que Antônio Pereira deu ao Brasil um notável e legítimo patrono para a nossa Independência. Conselheiro Rocha, herói de Antônio Pereira, uma grande alma. Faço votos que a Câmara saiba honrar a sua memória e, no mínimo, batize uma praça em sua pequenina terra natal em sua eterna homenagem e reconhecido.

Saudações, querida terra de Antônio Pereira. E viva o nosso Brasil Independente, em seus 200 anos!

Notas bibliográficas

VASCONCELLOS, Salomão. “O Fico. Minas e os Mineiros na Independência”. Coleção Brasiliana – Companhia Editora Nacional: São Paulo, SP. 1937

TAUNAY, Afonso d’E. “Grandes vultos da Independência Brasileira”. Publicação comemorativa do primeiro centenário da Independência Nacional. Companhia Melhoramentos: São, Paulo, SP 1922

José Joaquim da Rocha, conselheiro do imperador D. Pedro I – imagem retirada do livro: “Grandes vultos
da Independência Brasileira”