Por Willian Adeodato

Cotas para que e para quem?

Essa é uma pergunta que ainda ecoa na sociedade. Mas, independente de quem é contra, os resultados demonstram que a iniciativa foi positiva. E isso pode ser percebido nitidamente dentro das Instituições Federais de Ensino. Passados cerca de dez anos da adoção das contas pela UFOP, a presença de ouro-pretanos é representativa e vem contribuindo para mudar o perfil dos discentes da Escola. Hoje, eles são cerca de 30 por cento, algo impensável em 2012, quando não passavam de 3 por cento, restritos aos cursos de humanas, os menos concorridos. Agora, a Câmara aprovou e o Executivo sancionou as cotas para negro nos concursos públicos da Prefeitura. A Lei Municipal não é uma novidade. Em nível nacional, ela já está valendo desde o governo Dilma Roussef, quando foi sancionada pela presidenta. No caso de Ouro Preto, as cotas podem atender a dois objetivos, gerar mais emprego para os que nasceram em Ouro Preto, que passam a competir em condições melhores pelos cargos públicos e diminuir a evasão de concursados, boa parte formada por universitários, que uma vez diplomados deixam a cidade em busca de seus sonhos. 

Cabe ainda lembrar que a Lei de cotas no serviço público municipal, faz parte de uma luta da comunidade ouro-pretana liderada pelos fundadores integrantes do Fórum de Igualdade Racial de Ouro Preto, mais conhecido como FIROP. Apesar das dificuldades para manter a entidade em pleno funcionamento, o espírito motivador do sonho de uma sociedade inclusiva vai sendo fomentado sempre que se consegue influenciar uma liderança a fazer uma ação em prol da causa. 

Entre outras ações, ao longo dos últimos dez anos, o FIROP propôs e ou sugeriu a mudança do dístico da bandeira de Ouro Preto, cotas na Universidade, resgate da Festa em homenagem ao Chico Rei, instalação do Conselho de Promoção da Igualdade Racial, criação do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, Diretoria de Promoção da Igualdade Racial na estrutura da administração pública de Ouro Preto e, finalmente, a Lei de cotas no serviço público municipal.

E por que prosseguir com a luta? Para que cada vez mais as pessoas saibam que a diversidade é a maior riqueza do Brasil. Esse traço da nossa sociedade a torna cobiçada por pessoas do mundo inteiro. E para que cada vez mais não tenhamos que nos defrontar com crimes de racismo, mas também para colher histórias de sucesso entre o povo negro.

Certa tarde encontrei com um conhecido que não via há muito tempo, mas que apesar de não ser tão próximo tinha a liberdade de nos encontros fortuitos do cotidiano lhe perguntar sobre a vida. 

– Então! Ah! Quanto tempo?

– Pois é,o tempo está passando rápido.

– Conta uma novidade?

– Não tenho novidades 

– Não é possível que o Sr. não tem nada para contar. 

Ele pensou por alguns instantes, como que puxando pela memória o que de novo havia ocorrido em sua vida que pudesse ser noticiado a um conhecido curioso que insistia e parecia não querer desistir. 

– Minha neta acaba de se formar em medicina. Ele passou a informação com um brilho no olhar e um ar de satisfação. 

– Mas como foi isso? 

– Ela conseguiu passar no ENEM em uma boa qualificação e foi beneficiada pelas cotas por ter concluído os estudos na rede pública de ensino. 

– Parabéns! 

E assim terminava mais um encontro fortuito. O que ele não sabia, e que eu não contei,  é que internamente eu estava tão feliz quanto ele. É por isto que as cotas são legítimas, elas dão oportunidade a quem foi alijado por tantos séculos. Obrigado a todos que acreditaram e continuam na causa. Por mais 50 anos de politica de cotas, para reparar os 300 anos de escravidão.