Manifesto aqui a minha alegria ao receber o convite de Marcelino de Castro, para contribuir com a edição do jornal que comemorará os 312 anos de Ouro Preto e os 19 anos do Diário de Ouro Preto.
O MPB4 fez shows históricos em Ouro Preto, como o realizado no Teatro Municipal (1970), quando em meio a uma música, faltou luz na cidade. Iluminados por velas, providenciadas às pressas, microfones desligados, seguimos cantando sem eles…
Minha empatia o Diário de Ouro Preto surgiu nas férias de julho do ano passado, ao receber um exemplar do jornal, que um sujeito distribuía pela Praça Tiradentes. Na porta de uma loja, dois caras conversavam. Fui a eles: “Por favor, onde é a sede do Diário?” Eles apontaram para uma outra porta, mas alertaram: “Agora não tem ninguém lá. O Marcelino está ali na praça.” Fui direto na direção do editor do jornal. Me apresentei. Disse-lhe eu era do MPB4 e que há bem uns 15 anos eu assinava uma coluna em alguns jornais impressos e digitais e mais isso e aquilo… pois bem, saí dali como colunista do Diário de Ouro Preto.
Ao redigir este textinho, lembrei-me de outro que publiquei em meu livro “O Gogó de Aquiles” (2012). Aqui ele segue editado:
“(…) Mas uma viatura policial cheia de policiais indisfarçáveis fez uma volta pelo Jardim de Alá (ou terá sido pelo canal do Leblon) e ali eu vi pela janela os componentes do MPB4, que passaram bem perto de mim sem me ver. Senti uma emoção muito forte, uma emoção que se repete toda vez que falo ou penso nisso. Eram as primeiras pessoas conhecidas que eu via nessa chegada ao Brasil, e o fato de vê-los sem ser visto, depois de tantas horas de reiteração da hostilidade com que a repressão me despachara do país, dava à visão um caráter de sonho que amplificava seu poder simbólico. Eram músicos, músicos da minha geração e tão brasileiros, e tinham institucionalizado a sigla MPB em se nome de grupo – eu me sentia diante de uma essência, de uma realidade profunda – e um grande amor (não há outra palavra) pela história, pelo destino se acendeu em mim. Eu os amava como a gente imagina que alguém que já morreu pode amar os que ainda vivem: do ponto de vista da eternidade. Meus olhos se encheram de lágrimas. Não sei se chegaria à casa de Bethânia psicologicamente inteiro se não houvesse havido esse encontro secreto.”
Este é um trecho do livro Verdade Tropical de Caetano Veloso. Nele, ele se refere ao momento em que saía de um interrogatório, no final dos anos 1960. Maria Bethânia conseguira uma autorização especial para que Caetano e Dedé (casados à época) voltassem ao Brasil, após dois anos e meio de exílio em Londres, para participar da festa pelos quarenta anos de casados dos pais (…).
A partir daquela leitura, lamentei: um discreto sorriso seria bem-vindo, uma furtiva lágrima de saudade e medo teria nos proporcionado um bem enorme… Confesso que perdi”.
Mas naquela manhã de 2022, na querida Ouro Preto, eu não deixei a história passar incólume por mim… Confesso que ganhei!
Aquiles Rique Reis, julho de 2023