Por Aquiles Rique Reis

Recebi um álbum absolutamente diferenciado – Carlos Malta e Pife Muderno em Gil (coprodução da Carlos Malta Produções Artísticas e Gegê Produções Artísticas, distribuição da Deck), primeiro CD de uma série de quatro em tributo aos oitenta anos de Gilberto Gil (comemorado em 26 de junho de 2022). A amplitude da homenagem, reconheçamos, é grandiosa.

Antes de mais nada, Carlos Malta e Pife Muderno em Gil é dedicado ao batera Oscar Bolão, falecido em fevereiro de 2022, antes da finalização das gravações. Bolão integrava o Pife Muderno (grupo com 28 anos de carreira), que hoje tem Andrea Ernest Dias (flautas), Marcos Suzano (pandeiro e percussões eletrônicas), Durval Pereira (zabumba) e Bernardo Aguiar (pandeiro e  percussão) – craques consagrados!

Com direção musical, arranjos, pife, flauta, flautim e o cantar de Carlos Malta, o projeto está dividido em quatro suítes (pot-pourris em que as músicas são apresentadas na íntegra): “Viramundo”, “Tempo Rei”, “Primazia” e “Festa”. A que se louvar a atenção dada desde sempre aos pífanos pelo multi-instrumentista dos sopros Carlos Malta, que tem mais de 40 anos de ofício.

Aliás, segundo o release do jornalista pernambucano José Teles, desde quando ouviu a versão instrumental da Banda de Pífanos de Caruaru (à época chamada de Zabumba Caruaru) para “Pipoca Moderna” (Sebastião Biano), faixa de abertura do LP Expresso 2222, de Gilberto Gil, Malta mudou o rumo de sua música.

Desde sempre, o som impreciso – meio sonso, até –, mas profundamente sonoro e inconfundível dos pifes, amplia e enriquece a música nordestina. Aliás, pífano (pife) e zabumba estão para o baião, como sete cordas e surdo estão para o samba. Simples assim.

“A Novidade”, “Expresso 2222”, “Domingo no Parque”, “Procissão”/ ”Louvação”/ “Viramundo” (suíte gostosamente cantada também por Gil) , “Opachorô” (parceria inédita de Gil com Malta), “Sarará Miolo”, “Extra”, “Loguneddé”/ “Super-Homem – a Canção”, “Esotérico” e “Expresso 2222” (instrumental), estão à disposição dos que amam a música do oitentão Gilberto Gil. A cada arranjo (e que arranjos, meu Deus!), uma saudação definitiva à vida e à obra do compositor.

A sonoridade dada ao repertório é fina. Instigante total, o pife acrescenta a ela novos predicados aos já estabelecidos pela flauta tradicional. Irrompendo pleno de tradição nordestina, assumindo a sua raiz pop, dá gosto ouvi-lo vibrar em sua brasilidade exponencial. Poucos sons são tão modernos quanto o som de Carlos Malta e do Pife Muderno.


Ficha técnica: realização: Carlos Malta Produções Artísticas; curadoria, arranjos, direção musical, pife, flauta, flautim e voz: Carlos Malta; convidados especiais: Gilberto Gil e Yamandu Costa; Pife Muderno: Carlos Malta, Marcos Suzano, Oscar Bolão, Andrea Ernest Dias, Bernardo Aguiar, Durval Pereira; produção executiva: Daniele Yanes; mixagem: Marcos Suzano; masterização: Deck Disc; técnicos de som: João Damaceno e Léo Xogum.