No caso, a dos outros. Cês logo notarão que ele não botou a própria mãe no meio, e sim a mãe dos outros (rs). Mas tudo com muito respeito e com tal sinceridade, bom humor e musicalidade, que nenhuma delas ficará magoada. Eu acho.
Bem, hoje vamos de Mãe – Todo Artista Tem (Barbearia Espiritual Discos), o novo álbum de Carlos Careqa. Em catorze músicas, ele revela o seu sentimento sobre esse ser tão incensado pela humanidade: a mãe!
Eis algumas:
“A Mãe de Bach”: de cara explode a musicalidade sem parti pris de Careqa;
fidedigna, ela cativa a letra. Ambas acolhidas pelo cello de Mario Manga: “A mãe de Bach/ Teve oito filhos/ Pra ser feliz/ Elisabetha/ A predileta do caçula/ Era a matriz/ Morreu tão jovem/ Menino Bach/ Foi se virar/ Ele foi pra escola/ Sem o lanche/ da mamãe.”
“A Mãe de Chopin”: o polonês Frédéric Chopin ressurge na intenção melódica e harmônica de Careqa. Sua mãe (de Chopin, não de Careqa) deve estar comovida. Acho. O piano de Tiago Costa faz as honras da casa.
“A Mãe de Mozart”: o tributo a Dona Maria Anna, mãe do compositor austríaco Wolfgang A. Mozart, tem guitarra, baixo e cello de Mario Manga. Mozart está ali vivinho da silva.
“A Mãe de Noel Rosa”: para homenagear Dona Marta de Medeiros Rosa, Careqa e Manga vieram com tudo: violão, percussão, baixo e bandolim. Careqa canta com a voz poética que a sua mãe lhe deu.
“A Mãe de Pixinguinha”: o choro vem doce. O teclado preparado de Manga, mais seus violão de sete cordas, percussão, baixo e bandolim, dão a Careqa o jeito acabado de demonstrar o apreço que tem pelo filho de Dona Raimunda.
“A Mãe de Tom Jobim”: permitam-me acreditar que, a exemplo da mãe de Chopin, Dona Nilza Brasileiro de Almeida se emocionou quando ouviu referências às notas que seu filho dedilhava ao piano. Com Ná Ozzetti embalada por vibrafone, guitarra, baixo e batera a cargo de Manga, o maestro soberano renasceu.
“A Mãe de Villa-Lobos”: o tributo vem incrementado pelo violão de Camilo Carrara e pelo cello de Mario Manga. A composição de Careqa traz na letra a síntese do sonho: “(…) mãe do Villa/ Vida que doeu/ Mãe Noêmia/ Villa que cresceu/ A vida de Noêmia/ A mãe de Villa-Lobos/ Dorme filhinho/ Do meu coração”.
“A Mãe de Kurt Weill”: Como em outras faixas, nota-se aqui que Careqa traz à luz traços marcantes do estilo do compositor citado. A mãe deste alemão (o Weill, não o Careqa) pode sentir-se brindada por alguém que, sim, conhece o seu filho! O arranjo tem formação inusitada: tuba, bandolim e batera.
“A Mãe de Stravinski”: Careqa canta para Anna, mãe do compositor russo. Apoiado por piano, cello, fagote e oboé, tocados por Manga, Careqa tem a sabedoria de estabelecer contato imediato com o enredamento da música de Igor Stravinski.
“A Mãe de Beethoven” fecha a tampa de um álbum criado para demolir convenções, vocação primeira de Carlos Careqa – o artista que ousa profanar o usual.
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós
Ouça o álbum: