De cara vou logo entregando: sou seu fã! Pronto, falei. Mas olha só, por favor, desculpe a demora deste bilhete. Faz algum tempo que o Rodolfo Zanke me enviou o material do seu álbum mais recente, Ouvindo Paulinho da Viola, lançado pela Kuarup. Só que eu me enrolei aqui e, feito uma “Carolina” desleixada, deixei o tempo passar na janela.

Ó só, eu até já escrevi pro Cristovão e pro Mauro, aplaudindo-os por Choro Negro – Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola, homenagem aos oitenta anos do nosso compositor. Mas veja, eu queria também já ter te escutado e felicitado por seu tributo… foi mal, véio.

Mas, finalmente, cá estou eu ouvindo seu CD. Enternecido com a beleza da capa do genial Elifas Andreato, deixei rodar as doze faixas. Revi choros e valsas consagrados de Paulinho da Viola, como “Choro Negro” (dele e Fernando Costa) e “Sarau Para Radamés” (só dele), entremeados por temas com parceiros, como, por exemplo, “Um Choro pro Waldir” (dele e Cristovão Bastos). Há também três parcerias suas com ele: duas inéditas – o choro “Chuva Grossa Molha Mesmo” e a valsa “Carinhosa” – e a regravação de “Vou-me Embora Pra Roça”.

Sève, a homenagem a Paulinho é linda – aliás, ele já me avisara disso –; sua direção musical, como sempre, é fina. Seus arranjos, oito, mais uma adaptação (além de três de Cristovão Bastos), são o que há de mais contemporâneo na música brasileira tradicional.

“Carinhosa” tem seu sax soprano e sua flauta em sol, quando em duo o desenho melódico é puro carinho. Piano (Adriano Souza) e baixo acústico (Jefferson Lescowich) balançam. O sete cordas (Luiz Otávio Braga) liga todo mundo. O piano sola. O sete responde. O soprano volta.

“Eu e Minha Sogra” (PV) inicia buliçoso, até que o seu flautim dá o ar da graça. Piano e o baixo de Dininho Silva antecedem seu sax tenor. O suingue aumenta, o piano torna o ritmo ainda mais serelepe, enquanto pandeiro, tamborins e palmas (Celsinho Silva) puxam a flauta.

“Chuva Grossa” (PV) tem novamente você no flautim, no sax tenor e na flauta. O clarinete (Rui Alvim) é brilhante. O coro come com baixo + sete cordas + atabaques e o cavaquinho de Jorge Filho. O piano segura a onda, que logo é surfada pela flauta. A cadência, puxada na palma da mão, arrasa.

Em “Valsa da Vida” (PV) sua flauta emociona com a doçura de um sopro vital (você é fera, mano véio). O sete soa. O acordeom (Kiko Horta) improvisa. Piano, baixo e o cavaquinho de Jorge Filho cerzem o arranjo. Meu Deus!

A tampa fecha com “Inesquecível” (PV). O piano e o seu sax alto têm a honra de expor o tema cativante: é quando, juntos, geram a beleza que traduz o homenageado. O som do seu sax alto, emoldurando o arranjo de Cristovão Bastos, exprime a tranquilidade de Paulinho da Viola e salta aos ouvidos que, emocionados, louvam a arte do oitentão tão querido.

Olha, Mário Sève, deixo aqui o meu abraço mais fraternal a você e à sua genialidade. E viva Paulinho da Viola!

Aquiles