Eu que curto a profundidade encorpada do som de um clarone, que agasalha corpos e almas, deparei-me na internet com um álbum que me tocou. Lançado em 2024, Clarone no Choro 2 – Novas Mídias (independente) é um trabalho pioneiro na música instrumental. O número um é de 2018. Sabe-se de um concerto solo para clarone, do tcheco Josef Horák (1931-2005), em 1955.

Contatei o claronista, maestro, diretor musical e compositor Sérgio Albach e pedi que me enviasse o material do seu disco. Assim, hoje falaremos de um álbum histórico. Ei-lo.

No samba-choro “Bailando ao Luar” (Edu Neves) o pandeiro arrepia. Logo o clarone brilha com ele. E o couro come. O sete vem com o ritmo. O clarone dá show. Surge o bandolim que com ele toca em duo. Segue-se um instigante improviso do clarone.

“Cigana do Guatambu” (Pedro Paes): o pandeiro marca o maxixe. O clarone soa. Os dois seguem arritmo. Vem o ritmo e o clarone oferece o seu grave. O sete cordas dedilha o tema. O bandolim o ampara. O clarone retoma o proscênio.

“Sempre Juntos” (Gilson Peranzzetta): no choro lento, o sete se ajunta ao clarone para darem vida ao tema criado pelo talento de Peranzzetta. Logo o violão improvisa e o clarone sola bonito.

“Valsa Viva” (Alessandro Penezzi): Penezzi criou um tema que deu ao clarone e ao violão a oportunidade de fazerem valer suas aptidões. Os dois, mais o bandolim, se dão à valsa com paixão.

Na polca “Porfiosa” (Lucas Melo), os caras sentem o que tocam, conhecem suas nuances e suas origens. Nada é de graça, a tudo dão o valor que merece o trabalho musicalmente necessário.

“Desviando” (Léa Freire): o violão inicia o choro. O clarone vem pungente. O sete o acompanha. O tema da Léa é belo! O clarone o trata como a um filho e, com o violão, leva ao final.

“GS” (Sérgio Albach): a intro vem com o clarone e o pandeiro. O tema do Albach é uma aula que faz do clarone o protagonista de um choro soberbo – tudo flui com eles.

No xote Chora, Clarone!” (Cláudio Menandro), a melodia é bonita como quê. O clarone chora suas notas, acompanhado por bandolim e violão que se ajuntam a elas.

“Frevo Furado” (Sérgio Albach): o quinteto vem com tudo e o frevo ferve. O clarone se esbalda. Uma sequência de fraseados impulsiona a atmosfera do tema. Os violões e o bandolim não deixam barato, rolam no passo.

“Vila Real” (Daniel Migliavacca): clarone e bandolim iniciam a valsa. Logo Sérgio Albach reconduz seu clarone à ribalta e conduz ao céu o som profundo que renasceu para somar encantos. Bandolim e clarone dividem frases uníssonas e sinceras. A delicadeza impera. Meu Deus!

Aquiles Rique Reis

Nossos protetores nunca desistem de nós.

Assista: https://youtu.be/Cw3ba08UEnY?si=TwZXEK81QfLuV1Aa