Salve, Torquato! Perdoe-me a ousadia deste contato por escrito, sem que eu tenha o teu endereço. Tento visualizá-lo aí nesse plano superior, para onde foste e onde estás desde há tanto tempo. Imagino… na verdade rezo para que estejas bem… Ainda escreves letras? E poesias, poeta? Sentes saudade? Gostarias de reencontrar teus amigos e parceiros, para com eles trocar ideias e botar a prosa em dia? Ora, mas que tolo eu sou, meu Deus; envio-te perguntas, sem sequer saber se tu as receberás.

Mas sabe o que é, poeta, quero falar sobre Patrícia Ahmaral, cantora e compositora mineira que te tem grande admiração. Eu a conheci em 2011, quando ela lançou o CD Superpoder. Já naquele momento ela gravou “Mamãe Coragem”, tua e do Caetano, com direito a uma citação de outra canção de vocês, “Deus Vos Salve Esta Casa Santa”, dotada de levada pop e firme poder de arrebatamento.

Para sentires o quanto eu chapei ao ouvi-la, digo como a vejo: seu lance está no vigor do canto. Levando interpretações às últimas consequências, sem medo de se fazer intensa, as palavras lhe saem como petardos que miram o entusiasmo do ouvinte, trazendo-o para a roda de fogo. A chama do seu cantar acende o prazer de vê-la afinada, sem escorregadelas nem desconsiderações.

Pois bem, Torquato, hoje Patrícia Ahmaral lança nas plataformas digitais (desse papo tu ainda não saca, né?) Um Poeta Desfolha A Bandeira – Volume 1 do Álbum Duplo Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto (independente), tributo à tua obra musical. A direção artística é de um cara que, acho, tu gostarias de ter conhecido, o Zeca Baleiro; a direção musical que tu, certamente, também não conheces, é de três ótimos músicos: Rogério Delayon, Marion Lemonnier e Walter Costa.

O CD da Patrícia tem nove músicas, três tuas com Gil, “Geleia Geral”, “Marginália II” e “Louvação”; duas com Caetano, “Ai De Mim Copacabana” e “Mamãe Coragem”; além de “Três Da Madrugada”, tua e de Carlos Pinto, “Let´s Play That”, tua e de Jards Macalé, e mais duas parcerias póstumas tuas – uma com Chico César, “Quero Viver”, e outra com Rogério Skylab “Cogito”.

A tampa abre com “Marginália II”. Com bocca chiusa Patrícia inicia. A letra vem pujante. Cantos incidentais com reverber, intercalados às violas ponteadas por Ricardo Vignini e Zé Helder, traduzem o caos que abraça tua poesia.

Em “Let´s Play That”, Macalé toca primorosamente o violão. Com dinâmicas crescentes, ele e Patrícia cantam ao delírio. Também bela está “Louvação”, com a Banda de Pau e Corda, que trouxe o Coco de Arcoverde para a base rítmica e ergueu o duo de Patrícia com o cantor Sérgio Andrade. Outro bom momento é Maurício Pereira cantando com Patrícia no arrebatador e admirável arranjo de guitarras em “Mamãe Coragem”, que se vale da inclusão incidental de “Deus Vos Salve Essa Casa Santa”, parceria tua com Caetano, que ela já gravara em 2011.

Enfim, Torquato, aqui na terra sentimos a tua falta. Recebas um abraço intergaláctico do teu grande e eterno admirador, Aquiles.