Repito aqui o que já disse em momentos parecidos como este: quando estou diante de um
trabalho de algum colega que admiro, eu me derreto. Não tem conversa. Simples assim.
Apaixonadamente assim. Não há nada mais prazeroso do que ouvir algo que eu já imaginava ser
primoroso e concretizar a expectativa máxima. Gente, tenho aqui no meu som de cada dia o EP
de Vânia Bastos, Teu Coração (Mins Música).
Antes, porém, de falar sobre esse trabalho, gravado a partir de canções inéditas compostas
por Roberto Menescal (duas) e Cristovão Bastos (duas), com versos de Márcia Tauil e arranjos
de Ronaldo Rayol, digo-lhes que acompanho a carreira dessa paulista de Ourinhos desde que ela
começou nos anos 1980 como vocalista da banda de Arrigo Barnabé, com atuação marcante no
Movimento Cultural Vanguarda Paulista. Lembram?
A voz de Vânia é única, seu jeito de cantar é original. Desprovidas de exageros, as
interpretações de seu eclético repertório são marcadas pela capacidade de não se ater a modismos
ou salamaleques, demonstrando sempre que, graças à sua personalidade, a discrição se impõe. E
a música agradece.
Vamos às canções.
“Teu coração” (Cristovão Bastos e Márcia Tauil): com arranjo de Ronaldo Rayol, o
piano de Cristovão Bastos abre com efeitos de pads. Vânia canta com delicadeza igual à do
piano. As cordas e o teclado (JG Junior) se entregam à beleza. O baixo, nas mãos de Cristovão,
conduz a levada discreta. O violão de Rayol emerge num breve intermezzo, amparado pela sóbria
percussão de JG Junior. Com atmosfera propícia à sua voz afinada e bela, Vânia reina.
“Tamos Aí” (Roberto Menescal e Márcia Tauil): a partir de flauta e teclados (Ronaldo
Rayol), o samba vem balançado. O violão se ajunta aos pianos acústico e elétrico e ao baixo,
mais os pads (todos nas mãos de Rayol), e dão a Vânia o jeito de cantar e criar vocalises plenos
de suingue. A percussão (JG Junior) incorpora molho ao ritmo.
“Entre Nós” (Roberto Menescal e Márcia Tauil): violão e flautas abrem. A melodia de
Menescal soa ainda mais bela na voz de Vânia. O arranjo é pura finura. Um ligeiro reverber
amplia a harmonia e incrementa o som de teclado e flauta. O violão improvisa alguns compassos.
O baixo e a percussão engordam o balanço. Ficha técnica: pads, arranjos de flautas e cordas,
violões e baixo (Ronaldo Rayol); teclados e percussão (JG Junior).
“Lágrima”* (Cristovão Bastos e Márcia Tauil): outra linda canção de Cristovão e
Marcia. Vânia segue no show de dicção e respiração absolutamente corretas — uma intérprete
irrepreensível —, daquelas de se ouvir para nunca mais esquecer e voltar a ouvir novamente e
sempre. Ficha técnica: piano, pads e baixo (Cristovão Bastos); arranjo de cordas, violões e
vocais (Ronaldo Rayol); teclados e percussão (JG Junior).
Ouvindo o cantar dela, sente-se uma tal felicidade… quer saber? Vânia Bastos está na
luta, de onde, aliás, nunca se afastou, graças a Deus!
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós