Hoje vamos de Estrela É o Samba (independente), o quinto álbum do bamba Roberto Riberti, parceiro de Eduardo Gudin no icônico samba “Velho Ateu” (1978). Com parcerias com Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Paulo Vanzolini, compostas entre 2012 e 2023 (sim, o trabalho foi gestado ao longo dos últimos onze anos), o disco é uma ode ao ofício deste compositor paulistano.   

O até aqui inédito “Túmulo do Samba” (Roberto Riberti) abre a tampa, com a participação do saudoso cantor Germano Mathias (1934–2023). Com bom humor, Mathias e Riberti se entregam aos versos iniciais, encaixados na melodia sem muito cuidado com a prosódia. Para logo, ao se referir a frase atribuída a Vinícius de Moraes, “São Paulo é o túmulo do samba”, Riberti mandar na lata: “(…) Entrei no cemitério da Consolação/ Eu fui procurar o ‘túmulo do samba’/ Queria rezar no túmulo do samba/ Como não encontrei, saí, peguei o primeiro busão/ (…) Só sei que acordei sambando no Bar do Alemão (…)”. Com arranjo que privilegia a instrumentação característica do samba, o couro come com violões de seis cordas (Serginho Arruda e Paulinho Grassmann) e sete cordas (Wesley Vasconcelos), mais o clarinete de Alexandre Ribeiro, os cavaquinhos de ldo Silva e Getúlio Ribeiro, a flauta e o bandolim de Pratinha Saraiva, incrementados pelo ritmo aceso do pandeiro (Barão do Pandeiro), da frigideira e da cuíca (Osvaldinho da Cuíca), do tamborim, do agogô e do caxixi (Jorginho Cebion), e pela clássica timbatera* de João Parahyba. Show de bola! Creiam, Vinícius adoraria ouvir!

“Todo Mundo Me Diz” (Roberto Riberti e Paulo Vanzolini): aqui eu me vi voltando no tempo. Mais precisamente para 2012, quando o nosso saudoso Magro fez o arranjo vocal para este samba inédito até hoje. Ouvir esta gravação teve sabor especial, já que o Magro está presente em nosso pensamento neste momento em que comemoramos 60 anos do MPB4. Riberti criou a melodia para a letra que Vanzolini escreveu nos anos 1940: “Dinheiro e posição pra mim não valem nada/ Quero mulher, bebida e madrugada/ Pois se a carne é fraca o vício é mais forte/ Deixar a boemia antes a morte!”. Para cantá-los, fomos a eles como se não houvesse amanhã. E o Magro trouxe para o arranjo uma marca registrada dos Demônios da Garoa. Basicamente, o instrumental está a cargo dos mesmos músicos citados acima. Luxo só!

Há tempos sem gravar, Roberto Riberti nos trouxe sambas memoráveis gravados com o rigor musical necessário para que viessem a público, cantados com carinho por seus amigos e bem tocados por instrumentistas que com ele estiveram e com ele criaram os arranjos. Dá gosto saber que este compositor paulistano está aí para quem quiser admirá-lo e aplaudi-lo – o que faço agora no momento em que finalizo este comentário.

Aquiles Rique Reis

Nossos protetores nunca desistem de nós.

*Timba (tambora) deitada no chão, usada como batera.

Ouvir o álbum: