Antes de iniciar o meu comentário sobre o trabalho ao qual me dedicarei hoje, digo-lhes algumas palavras sobre quem o criou. Refiro-me a Vicente Barreto, compositor, violonista e cantor, nascido em Salgadália, distrito de Conceição do Coité, no interior baiano, mas criado na cidade de Serrinha-BA.

Assim, foi com alegria que recebi Paleolírico, seu novo álbum. Felicidade que só fez aumentar ao constatar o belo trabalho gráfico dispensado pelo Selo SESC-SP à confecção da capa e do libreto que acompanham o trabalho. Por isso, logo de cara, dedico meu olhar aos afazeres do músico, compositor e multiartista Manu Maltez, responsável pela criação da arte que embala de forma instigante a música de Barreto.

Além de diretor artístico geral, coube a ele e a Vicente conceberem o rumo conceitual do CD, cujo título Manu aclara: “(…) Paleolírico é o que fizemos do nosso sonho compartilhado/ Outro nome pra isso é música/ Que não é outra coisa senão tempo/ Liberto, desembestado/ Sem futuro presente passado”.

Sobre ele, Barreto revela no encarte: “Nesse caminho de retorno às paisagens da infância, me deparei com a ideia de um instrumento que existe no Nordeste, chamado sanfona de oito baixos, ou sanfona Pé de Bode (…) Este foi o mote e o esqueleto desse novo álbum. E eu trago a dinâmica dessa sanfona para o meu violão”.

Remoçado, antenado, VB trouxe para junto de si uma nova galera de músicos. Entre eles estão seu filho Rafa Barreto (guitarra, rabeca, programações, sinth e synth bass, coprodutor do CD e parceiro do pai em duas músicas, “Palavra Vital” e “Rasante Seco”, com levadas astutas), Maria Beraldo (clarone e clarinete) e Caê Rolfsen (produção, baixo, piano, programações, organelle, violão tenor, samples, synth, synth bass, cavaquinho, voz, arranjo de cordas e percussão). Ainda temos Alessandra Leão (voz), Rodrigo Caçapa (arranjos de cordas), Ricardo Herz (violino, violino tenor e rabeca), Rafael Cesário (violoncelo) e, na percussão, Bruno Prado, Victória dos Santos, Guegué Medeiros e Mauricio Badé.

Destaque para a participação do pernambucano Miró da Muribeca, poeta que declama “Quantos sacos de cimento há em ti, São Paulo”, e de Zeca Baleiro, juntos com VB em “Flor de Cimento” (Zeca e VB); além do já citado Manu Maltez (baixo acústico e voz em “Sanfoninha Pé de Bode”, dele e VB).

Em Paleolírico, a inspiração, a mão direita, o suingue e os graves de VB seguem firmes. A empatia com o passado vitaliza o seu presente. A tradição se mescla à contemporaneidade e saboreia a mais bela fusão: quando um artista maduro entrega sua música ao mundo – e o coro come!

Toda disponibilidade dispensada por Vicente Barreto a seu novo disco (onde não poderia vacilar) resultou num CD que o reafirma como um dos gigantes da MPB.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Ficha técnica: gravação: Rodrigo Funai Costa, Caê Rolfsen e Bruno Prado; gravações adicionais: home studios de Rafa Barreto, Ricardo Herz e Rafael Cesário; edições: Caê Rolfsen, Rafa Barreto e Bruno Prado.