Quando eu soube que Naná Albergaria se despedira da vida, fiquei bastante abalada. Era uma querida amiga, vizinha de anos e brava companheira de lutas. Uma digna representante de duas linhagens ancestrais de Ouro Preto: os Tassara de Pádua e os Albergaria. Uma de nossas lutas conjuntas tem sido a incansável batalha pelo direito à quietude e ao conforto da idade, já tão onerada pelos efeitos destruidores do tempo. Além de tudo, era mãe de minha outra amiga de décadas, a pequenina Elza Tassara, desde que éramos mocinhas. Meu coração vai para Elza, nesse momento tão pesado.

Não vou desfiar aqui a personalidade forte de Naná, mas só alguns detalhes. Ela ia de um ocasional humor atravessado a momentos extremamente cômicos e hilariantes. Quando a coisa pesava, era sair da frente (e calados), que Naná não deixava barato. Mas tudo nela era humano, sem mágoas profundas e sem cultivar sentimentos menores. 

Acima de tudo, Naná era dessas pessoas irônicas e divertidas que a gente tem a sorte de encontrar, nesta jornada terrena. Se por algum motivo, eu provocava alguma irritação nela, a crítica mordaz vinha na lata, sem que eu jamais me sentisse ofendida, pois conhecia o afeto por detrás das palavras. Nunca mesmo. Ao mesmo tempo, era pessoa de alma generosa e delicada: guardo com carinho, um presentinho especial de Natal, quando nada fiz para merecer a lembrança. Coisas de Naná.

Mas, afinal, Naná era Naná, cheia de razão e fé. Conversar com ela era extremamente prazeiroso, em que se mostrava afetuosa e preocupada com família e filhos. Em anos recentes, sofreu bastante com a perda de sua irmã Cecilinha, sem deixar de se preocupar com Zezé. Já havia perdido o marido, o filho e, em nosso último papo, lembro de sua tristeza por todos e a imensa saudade do Fábio. Espero que os reencontre logo.

Não sei o momento exato em que ela seguiu para a espiritualidade. Gosto de pensar que foi à noitinha, em meio ao silêncio que tanto apreciava. Mas também pode ter sido uma dessas saídas dramáticas, com raios e trovões ribombando no céu. Todas as duas alternativas combinam com ela, perfeitamente, embora eu goste mais dessa última.

Pois é, Naná, minha amiga, não nos foi permitido segurar você aqui, por mais alguns anos. Mas vamos tentar consolar Elza e sua irmã Valdete. No mais, tenho certeza que você vai ficar muito bem, aí em cima, junto de seus amados. Vai olhar por todos nós e, se duvidar, não perderá o costume de zoar de nossos trapalhadas, aqui neste nosso mundinho terreno. Afinal, continuaremos em frente com nossa luta em favor da quietude e paz na vizinhança. 

Deus te abençoe e te receba. Até qualquer dia, de sua amiga (já saudosa), Kátia.

Por Kátia Campos