Por: Kátia Maria Nunes Campos
No mesmo dia em que perdemos um dos nossos, em família, soube que Octávio Elísio Alves de Brito também partira. Fiquei muito triste com essa perda, no sentido pessoal e no coletivo. Não tenho idéia de como o meio político da cidade recebeu a notícia. Conhecendo a usual falta de cultura de política e de Estado, que anda imperando por aqui, talvez poucos não tenham noção da notável estatura pública do nosso ex-deputado e ex-secretário de minas e energia. E de educação, também. E presidente do IEPHA. E da FAOP. E por aí vai.
Basta consultar as páginas biográficas dos políticos brasileiros para sanar qualquer lacuna. Octávio Brito sempre foi e será uma honrosa e altíssima referência ouropretana nos assuntos de Minas e do Brasil, particularmente nos campos em que era catedrático. Era um homem da ciência e da educação, totalmente oposto aos que gritam muito (e dizem nada) ou que falsificam currículos. Ou pior, com passado e folhas corridas vexatórias.
Lembro quando o encontrei, um dia, de papo com o meu tio Felinto, ex-vereador de Ouro Preto, a quem visitava, em sua casa de Saramenha.
E chamei a atenção dos dois para a única e improvável chance de encontrar dois Elísios juntos, no mesmo espaço: Felinto Elísio e Octávio Elísio. Nunca se haviam dado conta e recebi de volta boas gargalhadas.
Octávio riu mais ainda quando perguntei quando nos daria a honra de se candidatar a prefeito, por aqui. Me olhou com um ar maroto, sem responder.
Conversar com ele era precioso e devo a ele muito do meu parco conhecimento em economia, política e legislação minerária, o que o levou a ocupar altos cargos no governo mineiro e brasileiro. Na última vez que o vi, foi num seminário sobre questões patrimoniais e fundiárias, no comecinho da pandemia, em agosto de 2019.
E falamos de muitas questões nacionais, mas também de seu irmão, Fausto de Brito, que foi meu professor no CEDEPLAR. Assim como o irmão, Fausto é detentor de uma biografia invejável, embora da vida pública restrita e seja mais acadêmico. Mas se ombreavam, como intelectuais e homens de integridade.
Lembro que o Octávio Elísio se divertiu muito quando contei que o Fausto havia me consultado sobre um eventual interesse em organizar e pesquisar registros antigos do histórico cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte (lembra disso, Fausto?). Imagine só quanto personagem histórico da política republicana dos primeiros tempos… Seria uma oportunidade a se pensar…
E vieram as considerações de humor macabro sobre o perigo de investigar velhas almas e o carma que isso poderia me acarretar. E argumentei que já carregava o peso de cutucar os mortos de Vila Rica ao longo de todo o século XVIII, na minha tese de doutorado. (Acho que falei de uns achados interessantes.) Além do mais, eu tinha lá (no Bonfim) um parente bem destacado, para me defender, se preciso (Diogo de Vasconcelos), além de outros da família inteira.
“Costas quentíssimas”. Estaria a salvo, disse ele.
“Se continua a ser o que era em vida, o velho Diogo deve ser um “fantasmaço” de peso e medida, com todo o respeito”. Concordei com ele.
Enfim, não cheguei a ter o privilégio de uma amizade próxima e duradoura com Octávio Elísio. Mas o pouco que tive enriqueceu um pouco mais a minha vida e sou agradecida por aqueles raros e breves encontros. À família Alves de Brito, filhos, primos, netos e amigos, meus sinceros sentimentos.