Meu Deus, como eu gosto de escrever sobre CD de lançamento de jovens músicos! Satisfaz-me ouvi-los iniciar o sonho de ser a sua própria música.
Pois bem, o jovem (22 anos) Ciro Belluci lançou Recanto (Selo Sensorial Centro de Cultura), seu primeiro álbum, com onze releituras de clássicos da música brasileira e uma canção inédita.
Ousada decisão… pôs-se na vitrine para as inescapáveis comparações com nomes consagrados e simplesmente se consagrou! Arrebatado pelo canto do multiartista mineiro, dei-me conta de estar frente a um talento único, explosivo.
Ciro escolheu um ótimo repertório e uniu-se a músicos com quem tinha afinidade: Pitágoras Silveira (teclado), Gladston Vieira (bateria) e Matheus Duque (sax), trio que dividiu com ele a criação dos arranjos e a gravação do CD. Dentre outras, citadas abaixo, há a participação especial de Nailor Proveta no saxofone e Paulo Paulelli no baixo acústico.
A tampa abre com “Oriente” (Gilberto Gil) + flauta: Ciro Belluci; teclado: PS; bateria, GV; e sax: MD. A intro tem efeitos arritmo, por vezes abertos em terças. O ritmo vem trazendo divisões bem tramadas. A criatividade do arranjo, pop de tudo, incita a voz de Belluci. Pronto, estava dada a largada para o show de interpretações da voz aguda e firme, afinada que só ela, do jovem cantor.
“Baião de Quatro Toques (José Miguel Wisnik e Luiz Tatit) + violão: Ciro Belluci; teclado: PS; batera: GV; baixo: Adalberto Silva. A intro cabe a batera. Entra Vanessa Moreno, em participação especial, e com voz cativante faz vocalises abrindo em terças, às vezes dobrando a própria voz. Em duo perfeito com Ciro, ora ela improvisa, Ciro responde, ora ela sola, ele vocalisa.
“Beijo Partido” (Toninho Horta), além da participação especial do ótimo cantor Zé Ibarra, tem apenas a voz e o violão de Ciro, que faz vocalises na intro e dá show vocal. Ouve-se um leve reverber. Bem gravado, o som do violão é belo. Zé e CB cantam em terças, até que Zé, numa breve escalada vocal, volta à melodia.
O teclado (PS) abre “Flor da Idade” (Chico Buarque) + sax: MD e batera: GV. Ciro, que parece nascido para teatralizar obras-primas, com sua absoluta sedução vocal inicia o canto. A melodia sobe uma oitava. O sax ensandece. “Carlos que amava Dora, que amava Pedro, que amava toda família”. Vocalises entusiasmados. O final vem em fade out.
Percussão com pau-de-chuva abre “Canto de Xangô” (Baden e Vinícius) + violão (CB); flautas e direção musical (Mauro Rodrigues); percussão (Serginho Silva); baixo (Ivan Corrêa) e coro (Pitágoras Silveira). Ciro traz o afrosamba na ponta da língua afiada; sabe tudo, o Ciro! A percussão bate tambor. O arranjo emociona. Os graves de Ciro vêm quentes. Desdobrando a emoção, ele saúda o rei Xangô. Ouve-se a percussão num pan muito bem urdido pela mixagem (Maurício Ávila). Com agudos cristalinos, Ciro explode seu cantar, ralenta, fim.
Meu Deus, salve Ciro Belluci, um cantor com voz contemporânea que taca lenha na fogueira da MPB.
Por Aquiles Rique Reis