Por: Kátia Campos
Não posso dizer a data exata em que a Saneouro iniciou a perfuração de um poço no campo da Água Limpa. Mas creio que já vai para um ano ou mais, em que a vizinhança sofre o tormento do ruído do equipamento, oito horas por dia, todos os dias úteis e facultativos.
Os moradores não reclamam porque há o consenso generalizado de que se trata de um serviço de utilidade pública. E aguentam a barulheira, resmungando, mas sem queixas formais.
Mas eu fico me perguntando se já não passou da hora de chegar ao lençol d’água, num terreno argiloso que, a rigor, fica em cima de um brejo, cujo riacho foi canalizado, há anos. Não estamos num deserto ou semi-árido. Se fosse região deserta, provavelmente já teríamos água jorrando, alcançando o aquífero. Erraram na localização da perfuração?
Mas, repito. Não parece ser este o caso. A menos de 150 metros da perfuratriz da Saneouro, na mesma área de brejo antigo, a lavanderia Ecolay levou poucos dias (em torno de uma semana) para perfurar um poço, para consumo próprio e já está se abastecendo, sem problemas. E a Saneouro ainda não, depois de tanto tempo. É várzea, fundinho de vale, pelo amor de Deus. E usaram a mesma perfuratriz que está operando no campo. Havia, no exato lugar da perfuratriz, um chafariz colonial, demolido por um antigo ex-prefeito muito ignorante. Muitos da minha geração se lembram perfeitamente desse chafariz, que é citado em alguns livros de pesquisa.
Andei contando e constatei que há cerca de 210 horas úteis num mês, em média (seis horas/dia). Ou seja, pouco mais ou pouco menos. O número médio de horas úteis num ano comum, seria de mais ou menos 2.500 horas. Ora, o preço operacional de uma perfuratriz hidráulica pode variar entre 200 e 300 reais, por hora, dependendo da potência e do modelo do equipamento. Temos ainda os custos de administração, manutenção, energia gasta e mão de obra de operadores. Ou então cometeram um erro inicial arrasador. Escolheram mal a área da prospecção para localizar o poço.
Enfim, para entender melhor, vamos chutar um valor de 500 reais por hora, só para ter uma noção da ordem de valor e não do custo real, que excederia um milhão e lá vai pedrada. Eu me baseei em tabelas do custo médio por hora do DNIT, que relaciona todo e qualquer equipamento pesado. Dá para consultar on line, com vários modelos, capacidades e diferentes custos médios, mas só encontrei um relatório publicado em julho de 2021. Assim deveriam ser levadas em conta as flutuações da economia, com preços e juros significativamente mais altos, nos períodos até o ano de 2023. Assim, não tenho como dar valores mais atualizados e melhores, que devem estar acima daqueles que usei. Deve ser entendido como ordem de valor e não preços realísticos. Mas ainda vou procurar relatórios e parâmetros mais recentes, pois são úteis para fundamentar dúvidas de sobrepreço de certos contratos, além daqueles da Saneouro.
Enfim, deu nessa ordem de valor, salvo as mencionadas fragilidades de análise. Ou seja, pode ultrapassar um milhão para furar o tal poço, pois nem dão sinais de suspender a operação, tão cedo. Quem vai pagar essa dinheirama? A nossa conta de consumo de água, é claro. E a empresa ainda pode usar esse valor para justificar a cláusula de obrigação de investir e debitar nos ativos que herdou da SEMAE. Ganharão duas vezes, no caso de ter de devolver bens públicos e exigir serem indenizados.
E daí? (diria o inelegível). Daí que contrato público ou privado, ou seja lá o que for, é concessão pública e estes gastos se refletem no valor cobrado pela água. Mas, pelo jeito, parece a leigos, como eu, que se está enterrando dinheiro num poço, onde parecem cavar o granito mais duro da escala de rochas, que não existe em Ouro Preto. Na minha modesta opinião, essa demora pode até ser estratégia para dificultar uma suposta indenização por gastos da empresa Saneouro. Ou é mesmo granito sólido, no leito de rocha? Sei. Sendo leiga no assunto e sem bagagem técnica para gerar opinião realmente fundamentada, seria de extrema utilidade que a Saneouro se desse ao trabalho de explicar aos vizinhos atormentados pela barulheira diária, o porquê dessa demora. Pode haver bons motivos técnico-científicos que desconhecemos. Ou não.
Vai ver estão procurando petróleo ou querem a água salgada do oceano Pacífico (e não no Japão, e sim nas coordenadas opostas de onde estamos).
E o que nos diz o silencioso fiscal responsável pelo cumprimento do contrato da Saneouro, atendendo aos princípios constitucionais de eficiência e economicidade, que incluem os contratos de terceirização de bens e serviços? Transparência nas respostas (se houverem), por favor! Porquê demoram tanto? Alguém precisa esclarecer essa demora e nos devem isso como vizinhos atingidos.
E já sabe, se encontrarem petróleo, é nosso; ninguém tasca.
Melhor ainda, se continuar mais tempo nessa toada e conseguir perfurar o leito oceânico e vazar água do mar para cá, criarão um marzinho interior.
Já pensou? Praia em Ouro Preto e o mar em Minas, finalmente. E vamos sonhando que só rindo mesmo.