Região do município de Ouro Preto teme perder patrimônio hídrico que contribui para o abastecimento de Belo Horizonte
Moradores, pesquisadores acadêmicos e ecologistas pediram socorro à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (13/11/24), para defender a localidade de Botafogo, no Município de Ouro Preto (Região Central), que estaria ameaçada não por uma mineradora, mas por sete empreendimentos minerários, inclusive da BHP Billiton, uma das donas da Samarco Mineração, responsável pela barragem do Fundão, rompida em Mariana (Região Central).
Além da BHP Billiton Brasil Ltda, que tem uma concessão de pesquisa em uma área de 900 hectares, já atuam na área as empresas CBRT Participações Ltda, HG Mineração S/A (Projeto Moreira), Mineração Patrimônio Ltda, Mineração Três Cruzes Ltda, RS Mineração Ltda e CSN Mineração. Todas alegam interesse em explorar minério de ferro e manganês, principalmente.
De acordo com os participantes da audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da ALMG, o patrimônio hídrico de Ouro Preto será o maior prejudicado pela mineração em Botafogo, reduzindo a recarga de duas bacias hidrográficas: do Rio Doce, ao sul do território, e do Rio das Velhas ao norte, que contribui para o abastecimento de Belo Horizonte.
Entre os que descrevem os riscos, está a geóloga Adivane Costa, coordenadora da Cátedra da Unesco Água, Mulher e Desenvolvimento. A geóloga afirmou que a mineração, da forma como está sendo autorizada, deverá causar o rebaixamento da água subterrânea, perda de nascentes e de mananciais de abastecimento. “Há profissionais passando desinformação para órgãos públicos”, acusou a geóloga, com relação aos estudos apresentados pelas mineradoras.
Segundo ela, apenas o Ribeirão do Funil, que fica dentro do território afetado, abastece diretamente 15 mil pessoas, incluindo o Distrito de Cachoeira do Campo, também em Ouro Preto, sem contar a contribuição para o Rio das Velhas.
“As propostas de empreendimentos de mineração são fragmentadas com o objetivo de facilitar a sua implantação e evitar estudos de impacto cumulativo.”
Adivane Costa
Geóloga
Além dos prejuízos para o patrimônio hídrico, os participantes também enumeraram danos ao patrimônio histórico arqueológico e ambiental, uma vez que o território inclui a Reserva Ecológica do Tripuí, a Capela de Botafogo (mais antiga que muitas das igrejas de Ouro Preto), duas trilhas coloniais 1718 e 1782, com ruínas de chafarizes, minas coloniais, entre outros bens ecológicos, históricos e arqueológicos, conforme ressaltado pelo presidente da Associação de Moradores e Amigos de Botafogo, Benito Guimarães, e pela representante da Associação dos Moradores e Amigos do Botafogo, Líria Barros.
“Botafogo é a porta de entrada de Ouro Preto. O futuro de Ouro Preto é claramente o turismo, e se a gente destrói a nossa porta de entrada, que turista vai querer ver?”, afirmou o professor do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) de Ouro Preto, Alex Bohrer. Ele criticou a paralisia da análise do pedido de tombamento da histórica Capela de Botafogo, iniciado em 2008.
Fonte: Assessoria ALMG
Foto: Henrique Chendes/ALMG