Já era previsível que as matérias pautadas para a 1ª Reunião da Câmara Municipal de Ouro Preto, realizada em 1º de fevereiro de 2022, logo após o recesso parlamentar, girassem em torno de vários assuntos urgentes que aguardavam o término do período equivalente às férias dos vereadores no qual a Casa do Legislativo não funcionou.
Ocupação e uso de solo, isenção de impostos para aqueles que tiveram seus imóveis residenciais ou comerciais danificados ou prejudicados pelas chuvas, cessão de equipamentos da Prefeitura para ajudar famílias na reconstrução de suas propriedades, obras para liberação de acesso das vias urbanas e rurais, além das situações específicas de vários bairros, distritos e localidades, esses foram os principais temas debatidos, quase todos relacionados às chuvas que ocorreram há mais de vinte dias.
Alguns dos destaques da reunião foram as famílias desalojadas do bairro Taquaral, que marcaram presença na reunião reivindicando terras cedidas à mineração em 1935, hoje sob suspeita de especulação imobiliária, e a solução para o problema da comunidade de Santo Antônio do Salto, distrito que sempre sofreu com dificuldades de acesso e, hoje, encontra-se praticamente. Também discutiu-se a prevenção de desastres na ladeira João de Paiva, que desde o dia 10 de janeiro apresenta sinais de movimentação de terra, trincas em muros e novos buracos.
Representando o grupo de comerciantes da Praça da Estação e dos bairros Pilar e Barra, Fábio Rogério, o Fábio Barbeiro, foi recebido no plenário onde manifestou, em nome daqueles diretamente prejudicados pelo desastre do Morro da Forca. Fábio vem acompanhando o cenário de perigo que ronda o Morro da Forca já faz tempo, pois seu negócio funcionou por anos na segunda casa que foi soterrada na tragédia do dia 8 de janeiro, a que não possuía valor histórico e, por isso, passou praticamente despercebida aos olhos da imprensa em geral. Ele já havia deixado o imóvel há quase 4 anos, quando o local foi oficialmente condenado, sendo obrigado a transferir sua barbearia para outro ponto da mesma praça. Fábio também foi um dos primeiros a atuar com as equipes da Defesa Civil, alertando as pessoas para evitarem passar por ali, isso pouco antes do morro ceder e encobrir o Solar dos Baetas e sua antiga barbearia.
Na tribuna, em nome dos setores que envolvem não apenas o comércio, mas também serviços relacionados ao turismo, transporte e toda a população, Fábio Barbeiro cobrou justificativas para ineficiência dos governos que, há mais de dez anos, conheciam os problemas geológicos existentes no local e, mesmo assim, deixaram a população exposta ao perigo.
Outro comerciante da região também fez uso da tribuna para reforçar a cobrança por respostas: “Só queremos saber quanto tempo vai levar para terminarem os estudos, para retirarem aquela terra pra minha vida voltar ao normal”, desabafou Marcelo, proprietário de uma autoescola na Barra.
Depois de tudo isso, como não podia faltar, o assunto em questão deveria ser a permanência ou retirada da Saneouro, a empresa concessionária dos serviços de saneamento básico.Entretanto, o assunto não rendeu porque um militar da reserva, que assumiu a tribuna, visivelmente descontrolado, lançou insultos aos parlamentares e teve o microfone cortado. A reunião quase foi suspensa.
Enfim, percebe-se que só agora o ano de 2022 começou em Ouro Preto, porém, agregando novos e graves problemas a algumas questões já exaustivamente discutidas no ano passado, e outras em tempos remotos, destrinchadas há anos, inúmeras vezes, por várias safras de vereadores que já sentaram naquelas mesmas cadeiras.
Victor Stutz, para o Diário de Ouro Preto