O Diário de Ouro Preto buscou entrevistar os três candidatos a prefeito de Mariana para entender suas propostas, suas diferenças e suas semelhanças entre si. O encontro com Bruno Teixeira (PSTU) aconteceu na terça-feira, dia 17, no seu comício. Já com o Roberto Rodrigues (PL) aconteceu no dia 19, quinta-feira, no escritório da Mina de Passagem. O encontro com Juliano Duarte (PSB) foi inviabilizado por uma questão de agenda.

Água:

A questão da água em Mariana é uma preocupação de toda a população, que durante os últimos meses, sofre com a instabilidade do abastecimento de água em suas casas. Por esse motivo, muitos caminhões pipa são solicitados para suprir essa necessidade, o que acaba sendo insuficiente considerando a demanda das comunidades. Os candidatos apontam algumas causas em comum para esse problema, mas as soluções propostas são diferentes. As perguntas feitas pelo Diário foram: 

  • Qual a sua proposta em relação à distribuição de água na cidade?
  • O que você imagina como uma estruturação adequada do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto)?

Tanto Bruno quanto Roberto consideram que é necessária uma mudança na gestão do SAAE para que ele funcione como uma autarquia, assim como já é estabelecido. 

A proposta principal de Bruno em relação à água é a mudança na tarifa, estabelecendo um teto de consumo entre 160 a 180 litros por dia por pessoa. Dessa forma, as residências que consomem mais do que a quantidade pré-estabelecida, pagaria uma taxa referente ao consumo excedente. Além disso, assim, as empresas pagariam seu consumo, principalmente as mineradoras. 

Já Roberto possui uma proposta diferente. Para ele, a questão da água deve ser pensada em curto, médio e longo prazo. Sua iniciativa de imediato seria entregar novas caixas d’água para as casas, pensando em uma lógica de distribuição. Roberto acredita que dessa forma, ele consegue tempo para conseguir interligar os reservatórios dos bairros, de forma que a distribuição seja unificada. Além disso, o candidato afirma que é necessário pensar tanto na captação, quanto no tratamento e na distribuição. Uma de suas ideias é impor um padrão de qualidade da água para todos os bairros. 

Trânsito e mobilidade urbana:

A mobilidade urbana também é considerado um assunto importante para a população, principalmente para os que utilizam os ônibus. Dessa forma, os candidatos apresentaram propostas para melhorar o tráfego dos automóveis dentro da cidade e também em políticas públicas que melhorem o Tarifa Zero. 

Bruno afirmou que não vai manter o contrato com a Transcotta, e que sua intenção é estatizar os ônibus municipais. Dessa forma, seriam ofertados concursos públicos para a contratação de funcionários e uma frota de ônibus seria comprada. Além disso, Bruno propõe rotas alternativas.

Roberto possui uma posição diferente em relação ao contrato com a Transcotta. Ele acredita que os serviços não são de excelência por falta de um gestor de contrato que fiscalize o trabalho prestado pela empresa. Assim, a Transcotta seria mantida em seu mandato. Sua proposta principal é a construção de uma alça viária expressa que siga desde a Mina Del Rey até o Posto Niquini, o que faria com que os bairros Rosário, São Gonçalo, Santo Antônio (Prainha) e Cabanas tivessem novas alternativas, diminuindo o tráfego no Centro.

Habitações:

Mariana é um município que sofre com o preço dos aluguéis, a alta procura por casas e loteamentos, além da necessidade de mais políticas públicas de habitação. O Diário perguntou aos candidatos:

  • Quais são os seus planos para o problema habitacional de Mariana?
  • Há algum plano para regularizar os alojamentos dos funcionários das empresas mineradoras?

Bruno ressalta que há 30 anos não se investe em políticas públicas habitacionais, o que ocasiona nas ocupações. O candidato, que é morador da ocupação do Rosário, acredita que é necessário urbanizar as ocupações e dar condições de vida social digna para essas famílias. Bruno acredita que deve haver uma cobrança e fiscalização mais intensa por parte da prefeitura em relação aos alojamentos.

Roberto já nomeia como invasões e não ocupações, e acredita que elas acontecem por falta de vontade pública. Ele acredita que o Estado deve buscar novos loteamentos para novas habitações, e afirma que o poder público dificulta as licitações dos loteamentos. Além disso, Roberto ressalta que habilitaria Mariana na Caixa para o programa Minha Casa Minha Vida. E o candidato propõe a construção de um distrito industrial, o que ele acredita que solucionaria parte do problema dos preços dos aluguéis, além de também influenciar no trânsito.

Saúde:

O setor da saúde de Mariana é criticado pela população, que sofre com a falta de atendimentos odontológicos, psicológicos e também com a falta de uma estrutura adequada para atendimentos de urgência. A expectativa é que a UPA São Pedro seja finalizada ainda neste ano, mas os primeiros meses do prefeito eleito para o ano que vem será de muito trabalho para a estruturação da unidade. Tanto Bruno quanto Roberto enxergam os gastos da saúde como mal gastos, uma vez que muito dinheiro é usado, mas pouco é investido e melhorado.

Bruno ressalta que o terreno escolhido para a construção da UPA foi superfaturado. Além disso, ele acredita que a descontinuidade de mandatos fez com que a obra atrasasse muito. O candidato acredita que deve ser iniciada a discussão da construção de um hospital público municipal. Além disso, Bruno afirma que um grande problema também é a condição de trabalho dos funcionários da saúde.

Roberto acredita que a presença de Dr. Rodrigo como seu vice-prefeito pode ser um ponto forte considerando a gestão da saúde. Uma das metas de Roberto é a implementação de UTI, sendo a principal proposta na área cardiovascular. Além disso, o candidato afirma que é necessária uma melhor prestação de contas.

Segurança Pública:

Esse tópico emergiu nos últimos meses em Mariana por conta do aumento do número de furtos, roubos e homicídios na cidade. Pensando nisso, o Diário perguntou aos candidatos quais seriam as medidas adotadas em seus mandatos para melhorar essa situação.

Bruno considera que o aumento da mineração causa o aumento da violência e da criminalidade. Portanto, ele acredita que o Executivo deve atuar na fiscalização das atividades minerárias. Além disso, o candidato afirma que uma das medidas imediatas extremamente necessárias é a capacitação dos guardas civis municipais, principalmente quanto às abordagens de pessoas negras, LGBTQIAPN+, mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Roberto ressalta que a falta de segurança pública é consequência de vários fatores, sendo um deles os trabalhadores que vêm para Mariana sem suas. Além disso, o candidato afirma que Mariana está em um déficit de 50 guardas municipais em relação à quantidade de habitantes, e que isso pode ser solucionado com a oferta de concursos públicos para preencher essas vagas. 

Cultura e Turismo:

A cultura de Mariana é rica e diversa, o que poderia ocasionar em uma maior procura turística, mas não é exatamente o que acontece. Mariana é uma cidade marcada pela mineração e foi dependente economicamente das atividades minerárias por muito tempo, mas a vontade dos candidatos é de que esse cenário mude. A alternativa que eles apostam é o fomento ao turismo.

Bruno acredita que os eventos geram turismo flutuante e que isso não soluciona o problema econômico. As propostas de Bruno são: ecoturismo com responsabilidade ambiental, turismo religioso, valorização da música, congado e capoeira. Além disso, o candidato ressalta a necessidade de maiores parcerias com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). 

Roberto afirma que as secretarias de Cultura, Esporte e Turismo se tornaram secretarias de eventos. O candidato propõe que o esporte e a cultura devem ser agentes de transformação social. Sua principal proposta é o fomento do turismo nos distritos, e também reafirmando a importância de Mariana na história de Minas Gerais.

Educação:

O município de Mariana ampliou o Tempo Integral em 2024, mas ainda é muito criticado por questões de infraestrutura das escolas, pelas atividades proporcionadas e também pelas condições de trabalho dos funcionários. 

Bruno considera a educação uma de suas principais propostas, estruturando uma educação multidisciplinar. A ideia seria a formação de uma equipe composta por pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e psicopedagogos. Além disso, o que ele considera imprescindível é a comunicação entre os setores da sociedade, aproximando a família da escola e do assistencialismo social.

Roberto afirma que o termo que seria usado na sua gestão seria Escola Integral, sendo um dos seus objetivos a construção de prédios equipados para que as famílias deixassem as crianças de manhã na escola e buscassem no fim da tarde. Dessa forma, as atuais escolas seriam transformadas em novos espaços sociais públicos, como bibliotecas. Essa proposta seria iniciada nos distritos. A outra proposta é a implementação de cursos técnicos à distância.

Meio ambiente:

Mariana foi palco de um dos maiores crimes socioambientais do mundo, o que faz com que o meio ambiente seja um tópico de extrema importância para a população. Além disso, as queimadas e as inundações são algumas das grandes preocupações. 

Bruno propõe a formação de uma equipe municipal de brigadistas, além do cadastro de pessoas voluntárias. O candidato reafirma a necessidade de preservar as nascentes, fazendo a captação de água nos rios. Além disso, Bruno propõe um estudo de planejamento de preservação das matas de propriedade privada e ainda uma tentativa, em parceria com Ouro Preto, de reverter a privatização do Pico do Itacolomy.

A proposta de Roberto é trazer uma brigada de incêndio e de defesa civil para Mariana. Além disso, promover campanhas de conscientização sobre as queimadas. Dessa forma, ele acredita que diminui os focos de incêndio nas matas.

Qual o diferencial desses candidatos? 

O candidato Bruno Teixeira destaca que é a alternativa da esquerda socialista em Mariana nessas eleições. A sua maior proposta é a implementação de conselhos populares para que as comunidades consigam tomar decisões junto com o Executivo, além de indicarem problemas que precisam de solução.

Roberto Rodrigues considera que seu diferencial é o seu trabalho feito em 2011, quando ele assumiu a prefeitura de Mariana. Ele acredita que a sua atitude de continuidade de projetos e o respeito ao dinheiro público provam sua competência para ser o representante do Executivo.

Por Marcella Torres