Victor Stutz, para o Diário de Ouro Preto
São mais de 50 anos de estrada, o grupo de jovens vocalistas que despontou em meio ao golpe de 1964, inicialmente vinculado à União Nacional dos Estudantes, é exemplo de resistência. Para contar um pouco da história do MPB4, o quarteto genial que ascendeu no cenário estudantil, enfrentou a censura e toda a barra pesada do regime militar para firmar, em um pulo, vínculo profissional com os principais compositores e intérpretes brasileiros, conversamos com Aquiles Rique Reis, um dos integrantes de seu elenco original
Nessa entrevista exclusiva, ele fala da trajetória do MPB4 e sobre os parceiros que ao seu lado o criaram, alguns que já se encantaram para as elevadas bandas celestes mas nunca serão esquecidos. Conta também, sobre o show que será realizado em Belo Horizonte neste sábado, 30 de julho, com a dupla gaúcha Kleiton & Kledir, no Sesc Paladium.
Além de cantar, Aquiles do MPB4 detém ainda um outro precioso dom, o de escrever. Recentemente ele se tornou colaborador do Jornal o Diário de Ouro Preto, que vem publicando semanalmente sua coluna pessoal. Em nossa proveitosa conversa, ele explica também sobre como isso aconteceu.
Diário de Ouro Preto entrevista Aquiles Rique Reis
Diário de Ouro Preto – Quando e como aconteceu o encontro dos primeiros integrantes do grupo?
Aquiles – Os quatro integrantes originais do grupo, Milton Lima dos Santos Filho (Miltinho), Antônio José Waghabi Filho (Magro), Ruy Alexandre Faria (Ruy) e eu (Aquiles Rique Reis), morávamos em Niterói. Isto no início dos anos 1960, mais precisamente em 1963. Miltinho e eu entramos para o Centro Popular de Cultura, o CPC de Niterói. Logo depois, o Ruy veio para o CPC, assim como também o Magro. Criamos, então, o Quarteto do CPC. Com o golpe de 1964, o CPC foi proibido de atuar. Até que em 1965 viemos para São Paulo e aqui nos profissionalizamos com o nome MPB4.
Diário de Ouro Preto – Qual era relação de vocês, artistas, com o movimento estudantil daquela época?
Aquiles – O CPC era um grupo originário da UNE. Desde então, os quatro do MPB4, passamos a atuar ativamente no movimento estudantil. Eu tinha uma grande participação no movimento estudantil de Niterói. Fui, inclusive, presidente da UBES, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas. Disposição política que, mais tarde, me levou à presidência do Sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro, em 1982, e a atuar na terceira via, nas Ongs.
Diário de Ouro Preto – É verdade que foram vocês que criaram a sigla MPB?
Aquiles – Sim! Miltinho e Magro estudavam na Faculdade de Engenharia de Niterói. Talvez pelo uso de siglas matemáticas, lá eles criaram um quinteto instrumental e o nomearam MPB5. Quando mais tarde viajamos para São Paulo, e sem podermos usar o nome Quarteto do CPC, nos valemos do nome criado por eles. Nascia ali o MPB4, quando pela primeira vez foi usada a abreviatura “MPB” de Música Popular Brasileira.
Diário de Ouro Preto – Dos grandes autores que vocês gravaram, na sua opinião, quais eram os que mais “combinavam” com o repertório que vocês apresentavam?
Aquiles – Naquele momento, meados dos anos 1960 a meados dos anos 1970, sem dúvida, Chico Buarque. Tanto assim que de 1966 até 1974, Chico só fazia show com o MPB4 – ele chegou a se declarar como sendo um quinto MPB. Enquanto nós seguíamos fazendo shows e gravando sozinhos.
Diário de Ouro Preto – Você e o Miltinho são os remanescentes da formação original, correto? Conte pra gente sobre a relação com o antigo parceiro e de que forma os novos integrantes foram surgindo
Aquiles – Quando perdemos o Ruy, Magro, Miltinho e eu decidimos convidar Dalmo Medeiros, um vocalista experiente, para assumir o lugar dele. Mais tarde, ao perdermos o Magro, convidamos Paulo Malaguti, o Pauleira, vocalista, pianista e arranjador para ingressar no MPB4 no lugar do Magro.
Diário de Ouro Preto – Fale pra gente sobre o show que vocês vão fazer em BH com os irmãos Kleiton & Kledir
Aquiles – Nós tivemos participação ativa no início da carreira de Kleiton e Kledir. Gravamos “Vira Virou”, sucesso estrondoso, e os levamos para participar de uma grande turnê que fizemos por todo o Brasil. A qualidade musical dos irmãos é impressionante. Deste contato profissional resultou uma sólida amizade que hoje se renova nos palcos.
Diário de Ouro Preto – O Diário de Ouro Preto tem publicado periodicamente textos de sua autoria. Conte também sobre essa sua outra vocação, o escrever
Aquiles – Há mais de quinze anos eu assino uma coluna em alguns jornais impressos e outros tantos digitais. Nesta coluna eu comento CDs recém-lançados, com ênfase para os independentes e para os veteranos que não costumam ter a merecida atenção. Sempre opto por comentar trabalhos instrumentais e de intérpretes e autores que, é impressionante, não param de surgir, e com extrema qualidade. A diversidade da música brasileira faz dela a melhor música do mundo. Recentemente, numa viagem de férias com minha família, passando por Ouro Preto, abordei o Marcelino, em plena praça Tiradentes, e ofereci a ele a minha coluna semanal. Desde então, com muito orgulho, sou também colunista do Diário de Ouro Preto.