A Samarco, que retomou suas atividades operacionais recentemente, mantém um Centro de Monitoramento Integrado (CMI) no Complexo de Germano, em Mariana, que faz parte do Sistema Integrado de Segurança da empresa. Para conhecer como é feito esse monitoramento de estruturas, o jornal Diário de Ouro Preto conversou com o coordenador de Geotecnia da Samarco, João Paulo Chiste. Segundo ele, o monitoramento é feito em tempo real e de forma integrada. Na entrevista, ele destacou a importância da adoção de novas tecnologias que contribuem para maior segurança operacional em todos os processos da empresa. Confira!

Foto: @oliverzort
1 – Como é feito o monitoramento das estruturas geotécnicas a partir do Centro de Monitoramento Integrado, que faz parte do Sistema Integrado de Segurança? Quais os parâmetros adotados pela Samarco relacionados à segurança das barragens?
João Paulo – Retomamos nossas atividades com 26% da capacidade produtiva, prontos para produzir 8 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro por ano, mas o reinício só foi possível porque estamos comprometidos em fazer uma mineração diferente, com mais segurança, apoiados em novas tecnologias, após a revisão de processos e procedimentos e de muito aprendizado.
Os cuidados com a segurança das estruturas geotécnicas da Samarco são fundamentais, e fazer uma mineração diferente também passa por uma operação mais segura. No Centro de Monitoramento Integrado (CMI) atuamos 24 horas por dia, sete dias por semana. Nos últimos anos, ampliamos de 800 para 1.300 o número de equipamentos de controle de segurança dessas estruturas. O monitoramento de todas as estruturas geotécnicas da Samarco é executado por engenheiros e técnicos especializados, que fazem inspeções visuais e interpretação sistemática dos resultados dos instrumentos automáticos e manuais. Nosso monitoramento geotécnico é realizado de acordo com as principais práticas de segurança da engenharia e de forma integrada.
Combinamos os métodos de monitoramento, extraindo o melhor de cada instrumento, focados na segurança e na qualidade da informação. Balizados nos critérios de redundância e diversidade de instrumentos, realizamos a análise dos dados em tempo real com empregados capacitados.
2 – Para que ocorresse a retomada operacional da Samarco, a empresa implantou o sistema de filtragem de rejeitos para empilhamento a seco. O monitoramento das pilhas de rejeitos a seco é diferente das demais estruturas geotécnicas? Como funciona?
João Paulo – Assim como já ocorre em todas as estruturas geotécnicas da empresa, a pilha de rejeitos a seco e a Cava Alegria Sul são monitorados pelo CMI por instrumentos 24 horas por dia, 7 dias por semana. A operação de pilhas, por si só, já é um método inovador e mais seguro, uma vez que o rejeito é filtrado retirando água para reaproveitamento no processo, antes da disposição final. Várias tecnologias de monitoramento, como controle dos parâmetros na disposição, sensores magnéticos, célula de pressão, piezômetros, prismas, estações robotizadas, “imageamento” e levantamento topográficos utilizando drones autônomos, associado ao vídeo-monitoramento em tempo real, são aplicadas também nessas estruturas geotécnicas.
Importante ressaltar que a Samarco voltou a operar somente após a implementação do sistema de filtragem de rejeitos, uma concepção operacional diferente e inovadora, que permite desaguar o rejeito arenoso, o equivalente a 80% do rejeito total gerado, para posterior empilhamento a seco. Os demais 20% restantes, que corresponde à porção lama, são dispostos na Cava Alegria Sul, um espaço rochoso e confinado.
3 – Explique como ocorrem as inspeções e a análise de dados a partir das instrumentações disponíveis para o monitoramento. Podemos destacar quais os principais instrumentos e suas funcionalidades?
João Paulo – Essa atividade começa pelo planejamento. Verificamos inicialmente as informações obtidas pelos instrumentos automatizados. Esses dados são acompanhados e validados em tempo real pela sala do CMI, 24 horas por dia. Realizamos também as inspeções em campo, utilizando tablets e sistemas portáteis. Como mais de 85% dos instrumentos são automatizados, todas as informações se concentram em um sistema integrador. Os técnicos e os engenheiros conseguem acessar os dados e interpretá-los, permitindo uma análise consistente e rápida. O nosso sistema permite o manuseio de um banco de dados robusto com dados rápidos e precisos, permitindo essa análise em tempo real.
4 – Além do monitoramento realizado pelo CMI, órgãos externos também atestam a estabilidade das estruturas geotécnicas da empresa?
João Paulo – Exatamente. O processo de monitoramento e inspeção é analisado e interpretado por engenheiros especialistas da Samarco, seguido por uma série de especialistas externos e independentes, com o objetivo de validar todas as informações apuradas e registradas pela empresa. Além dos especialistas externos, vistorias de órgãos competentes validam toda a informação técnica gerada pelo monitoramento.
Importante dizer que todas as estruturas geotécnicas do processo produtivo da Samarco passam por auditorias e possuem Declarações de Condição de Estabilidade (DCE), documentos que atestam semestralmente que as estruturas atendem aos requisitos de segurança, de acordo com as normas brasileiras e internacionais. Recentemente, a Samarco obteve a emissão de nova DCE, cumprindo as normas estabelecidas.
5 – Existe alguma expectativa de ampliar o volume e alcance de equipamentos?
João Paulo – O desenvolvimento e o aprimoramento de tecnologias na Samarco são contínuos e a equipe de Engenharia Geotécnica atua para garantir a segurança de todos os processos. A aplicação de sensores a laser, captura de micro-ondas para medir a geometria e sensibilidade das estruturas geotécnicas, por exemplo, já é uma prática realizada na Samarco. Estamos sempre estudando e acompanhando o surgimento de novas tecnologias sustentadas pela engenharia. Essa é uma prática contínua com o objetivo de manter nossos processos mais seguros e inovadores.
6 – No último ano, houve alteração na legislação que trata da segurança de barragens, exigindo o uso de sistemas de monitoramento automatizado e, com isso, o setor mineral terá que investir em novas tecnologias. Na sua avaliação, como a nova legislação pode contribuir para garantir mais segurança no setor?
João Paulo – As mudanças trazidas na legislação são importantes no sentido de fortalecer a mineração brasileira, impulsionar o setor para uma eficiência operacional mais segura e apoiada em novas tecnologias, mais sustentabilidade, e, consequentemente, com menos impacto ao meio ambiente e boas práticas de engenharia aplicadas pelas empresas do setor.
A segurança é um valor para a Samarco e, como disse anteriormente, possuímos mais de 1300 instrumentos de monitoramento em nosso CMI e locados em nossas estruturas geotécnicas. A distribuição dos instrumentos alcança desde a mina no Complexo de Germano, em Minas Gerais, até a unidade de Ubu, no Espírito Santo. Com esses instrumentos é possível monitorar em tempo real as estruturas. Temos inúmeros desafios e caminhamos para resgatar a confiança da sociedade e demonstrar que somos capazes de fazer uma mineração diferente, promovendo uma retomada sustentável, alinhada aos princípios de segurança e respeito às pessoas e ao meio ambiente.
Por Marcelino de Castro