1- Foi realizado algum estudo específico para proteção dos conjuntos arquitetônicos?

R.: No País, sim, embora por iniciativas particulares, especialmente quando da restauração de um ou outro conjunto. Por exemplo, temos conhecimento de estudos realizados para proteção do conjunto arquitetônico do Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro. Em Ouro Preto, é possível identificar um esforço de prevenção e proteção contra incêndio em alguns imóveis isolados, embora grandes, a exemplo do que ocorreu na Matriz Santuário de N. Sra. da Conceição de Antônio Dias e vem ocorrendo na Matriz Basílica de N. Sra. do Pilar.

2- Fale sobre sua visão da situação atual da cidade e os riscos que pode estar correndo.

R.: Podemos pensar em dois princípios para responder com brevidade a esta questão. O primeiro deles é “não queremos combater incêndios em Ouro Preto” e o segundo é “o incêndio é um fenômeno integrador”. Pelo primeiro, queremos dizer que  o objetivo maior de segurança em Ouro Preto ou em qualquer outro conjunto tombado é a prevenção efetiva  e não convencional de incêndios. Pelo segundo, queremos dizer que medidas isoladas (como rede de hidrantes, detecção, aparelhamento do CB para combate) ainda que importantes, não são suficientes para gerar um nível de risco de incêndio aceitável. A prevenção de incêndios convencionais tem pouco efeito numa cidade como Ouro Preto, porque se tivermos um incêndio generalizado em uma edificação, os prejuízos culturais e materiais podem ser imensos. Por isso, pessoalmente  recomendo a elaboração de um Plano de Gestão de Riscos de Incêndios para a cidade, contemplando os seus principais conjuntos arquitetônicos (não estou falando de edificações isoladas). Esse Plano contempla medidas de segurança integradas e é elaborado com base na gestão de cenários de incêndio. Concluindo, há riscos e hoje em dia, apesar dos grandes esforços do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil, cada um dentro das suas atribuições, esses riscos não podem ser ditos aceitáveis.

3- O LARIN continua estudando a rede de hidrantes ou foi apenas um relatório para responder ao Promotor Dr. Ronaldo Crawford?

R.: O LARIN foi desativado há vários anos. Aposentei-me em fevereiro de 2021 e confesso que não tive êxito em formar uma equipe continuadora dos trabalhos de Engenharia de Incêndio, não por falta de esforço pessoal nesse sentido. Hoje continuo atuando na área, mas como Consultor independente. Faço estudos de proteção de patrimônios históricos e recentemente tive ocasião de participar de uma iniciativa do IPHAN nesse sentido. Com o CBMMG, sempre estou em contato. A Defesa Civil da PMOP também já demonstrou grande interesse nesse tema.

4- O projeto de Restauro do Palácio dos Governadores/Escola de Minas contempla o projeto de prevenção e combate ao incêndio?

R.: Certamente sim! Porém, já lhes adianto e a todos os interessados, um projeto convencional sem o devido Plano de Gestão de Riscos vai mergulhar a comunidade em uma grande ilusão de segurança. Mas, já tive ocasião de me colocar à disposição para esse tema em contato com o Eng. Walter Brinck, coordenador do Projeto, e com o Prof. Cristovam Paes, Presidente da Fundação Gorceix.

5- Qual a sua opinião sobre a situação da cidade e a morosidade em se estabelecer ações nesse sentido?

R.: Para nenhum conjunto arquitetônico onde pessoas, meio ambiente e edificação estejam expostos a um risco inaceitável de incêndio, aconselho “esperar, postergar o tratamento da questão de segurança”. O incêndio tem origem aleatória, como se sabe, e pode nos surpreender a qualquer momento, como foi naquele fim de tarde de abril há 20 anos, no Hotel Pilão. Vejo um Corpo de Bombeiros muito mais preparado que naquela época e uma Defesa Civil da PMOP que deseja fazer mais, mas se encontra atarefada com os riscos geotécnicos como não poderia deixar de ser. Concluo que andamos um pouco nesses 20 anos do Pilão, mas temos muito ainda a fazer.

CURRICULUM RESUMIDO

Prof. Dr. Antonio Maria Claret de Gouveia

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Ouro Preto (1978), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1983) e doutorado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991). 

Fez pós-doutoramento na University of Sheffield, Fire Engineering Group, UK, em 1999. 

Em 2011, fez pós-doutoramento na Lund University, Department of Fire Engineering and Systems Safety. 

É Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto (2006). 

É Consultor em Engenharia de Incêndio

É Advogado, OAB-MG 105.252, desde 2006. 

Foi Professor Titular da Universidade Federal de Ouro Preto, tendo atuado em ensino e pesquisa nas áreas de Análise de Riscos com especial atenção à Segurança contra Incêndio de Patrimônios Mundiais e Edificações Tombadas, Engenharia de Estruturas em Incêndio, Modelamento de Incêndios, Reação ao Fogo de Materiais e Comportamento Humano em Incêndios. Aposentou-se em Fevereiro de 2021.

É Professor Voluntário do Quadro Permanente do Mestrado Profissional em Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental onde leciona Análise de Riscos de Desastres e Direito Constitucional Ambiental.

Foi Professor do Quadro Permanente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais Rede Temática de Materiais (Mestrado e Doutorado) atuando na área de Reação ao Fogo de Materiais. 

LIVROS PUBLICADOS

Introdução à Engenharia de Incêndio. 1. ed. Belo Horizonte: 3i Editora Ltda, 2017. v. 1. 230p. 

Análise de Risco de Incêndio em Sítios Históricos. 1. ed. Brasília: Cadernos Técnicos Monumenta – Ministério da Cultura, 2006. v. 01. 104p.

Foto: Incendio Hotel Pilão, Ouro Preto 2003
Crédito: Eduardo Tropia/ouropreto.com.br