A história do Teatro de Ouro Preto tem um personagem chamado João Batista Tattu Penna, revolucionário contrário à ditadura militar, que fez com seu grupo de teatro um carnaval na praça Tiradentes, quando Tancredo Neves foi eleito indiretamente presidente da República em 1985.
“Não deixei de ser menino”, assim começou a entrevista de Tattu Penna, na varanda de sua casa no Morro São Sebastião. Ele foi um dos precursores do teatro amador de Ouro Preto.“Para ser menino, a vida toda você tem que ser artista”, exclamou ele.


Como técnico metalúrgico, Tattu Penna poderia ter feito carreira na Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que iria para Itália se especializar para trabalhar na implantação da primeira planta industrial de papel alumínio do Brasil. Não aceitou o convite da CBA, veio para Ouro Preto cursar Engenharia Metalúrgica. Quando foi convidado para fazer parte da montagem da peça “Apologia”, logo após a chegada da missão à lua em 1969. “Eu descobri que meu caminho estava alí, abandonei tudo. Fui pro Rio de Janeiro fazer a Escola de Teatro de 1970 a 1972”.


No Rio de Janeiro, além das aulas de teatro e de assistir shows dos artistas Pixinguinha, Luiz Gonzaga, Caetano Veloso e Gil quando chegaram de Londres, assistiu também a ditadura comandada por Garrastazu Médici, naquele ano em que a seleção brasileira sagrou-se tri-campeã do Mundo. “Morava em Santa Tereza muito antes de ser esse bairro preferido por artistas e intelectuais do Rio de Janeiro”.


Segundo Tattu Penna, morar no Rio de Janeiro contribuiu na própria identidade artística, “A passagem pela cidade maravilhosa influenciou minha formação artística, porque na época era o sesquicentenário da independência do Brasil. Vou contar um episódio, eu peguei o ônibus para ir ao parque da Gávea, para curtir a natureza, e quando estava passando em Laranjeiras, foi barrado para passar o cortejo com as cinzas (restos mortais) de Dom Pedro I, com os militares escoltando, com metralhadoras e eu lá dentro daquele ônibus, e eu era contra a ditadura. Naquela época era tão terrível a ditadura que a gente tinha medo até de pensar contra, aí foi uma experiência traumática, isso tudo eu vivi lá.”


Para fugir da censura ao teatro, Tattu seguiu para o teatro do Absurdo, também realizou apresentações do teatro invisível, que consiste em não deixar o público saber que é uma encenação. “Eu entrei para um grupo de teatro que se chamava ‘Calma que o Brasil é Nosso’ regido por Amir Haddad, era a vanguarda. Eu passei a curtir o teatro de Grotowski. Sou contra a ditadura de qualquer cor, de direita ou de esquerda, sou liberal, quero a liberdade. Sempre fiz um teatro social, voltado a abrir a consciência do povo.”


Tattu conta que ao retornar a Ouro Preto, se uniu aos amigos os quais tiveram contato com o Living Theater. “Vou citar uns nomes que tiveram contato com eles, o Vitor Godoy, Kelé, Vinícius”, que participaram do Getop, que segundo Tattu, foi o precurssor do teatro amador de Ouro Preto. “Eu lembro que eles estavam preparando uma peça, que era uma construção em mutirão de uma casa, mas não seguiu porque foram presos,” relembra o artista.


Sua jornada no teatro amador ouro-pretano começou com o grupo que segundo ele “chamava Grupo Teatro Dificuldades, porque não tinha local pra gente ensinar em lugar nenhum. Fomos ensaiar no adro da igreja do Carmo, Padre Simões reclamou com a polícia, que falou que não podia […] Aí Angelo Oswaldo nos procurou para ajudar com pessoas para dar cursos, ele nos indicou alguns nomes de pessoas de Belo Horizonte, primeiro foi Priscila Freire, eram ligados à escola do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia),Haydée Bittencourt que foi diretora do Teatro Universitário da UFMG, era dessa escola, que tem muita relevância na evolução do teatro, mas não era a minha praia, não queria comédia não, eu sou Bertold Brecht , sou social, sou teatro de rua, eu sou boal , Amir Haddad, Zé Celso Martinez Living Theater, Grotowski que me influenciou.”


Insatisfeito, pediu ao Angelo Oswaldo que trouxesse Amir Haddad, o qual chegou na cidade com dois atores, e nos porões da atual Casa do Folclore fizeram um trabalho em conjunto durante um mês, depois iniciaram a montagem de uma peça que levou dois anos para ser estreada.


Amir Haddad sugeriu que mudassem o nome do grupo, que era baixo astral, “Dificuldades”, depois de uma reunião em 1975, o grupo passou a se chamar “Palco & Rua” e estrearam a peça “As Confrarias” de Jorge Andrade, na Casa da Ópera, depois se apresentaram em Belo Horizonte no teatro Francisco Nunes, realizaram outras três apresentações e buscaram outra peça agora voltados para o teatro do absurdo, montando Piquenique no Front, de Fernando Arrabal, apresentamos aqui em Ouro Preto, em Juiz de Fora.
O grupo se desfez em 1994, quando Tattu sofreu um AVC, o que não impediu que continuasse com seu trabalho intelectual. Para se atualizar Tattu prestou vestibular da UFOP em 1999, aprovado em 5º lugar e ingressou para a segunda turma de licenciatura em Artes Cênicas.


Em 2021, lançou o livro de poesias “Mas Porém Todavia ComTudo Aliás…Todas vias”.
Por Marcelino de Castro