Ouro Preto – Domingo de sol, dedicado à festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Dia de devoção a fé que move, que subiu e desceu ladeiras, vindos de diversas cidades de Minas e até de Catalão, Goiás. A tradição de geração em geração mantém a força da cultura de um povo que mesmo cativo se afirmou e professou sua fé.
Uma festa popular que é referência no Brasil, que abre as festividades da cidades e que garante emoção aos participantes e aos turistas que se acotovelavam para garantir suas fotos a chegada de cada guarda.
O pequeno Bryan Henrique, da cidade de Luz, aos 4 anos, gosta de tocar caixa, foi trazido pelos pais., para acompanhar a guarda Unidos do Rosário. Segundo informações da Mão do garotinho, “é uma mostra de fé, ele gosta de bater caixa. Onde a guarda vai a gente leva ele”.
A guarda de Miguel Burnier, com Antônio Xisto puxando os cantos e a Guarda de Congo com Maurício Tizumba puxando os cantos mostra que a forma da cultura imaterial é a oralidade, mesmo que você nunca tenha ouvido a letra terá condições de responder.
A festa reúne cerca de 35 guardas de Congado, Moçambique, Caboclos e Catopés, além de Folias de várias regiões de Minas e algumas de fora do Estado, como Guardas do Estado de Goiás.
As guardas visitantes também recebem as guardas ouro-pretanas em suas cidades nos seus festejos. Kedison Guimarães, Capitão da Guarda de Moçambique, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia comenta a importância de fazer as trocas de visitas para manter a tradição do Congado: “Durante todo o ano, as Guarda de Moçambique e Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, prestigiam as festas Honra a Nossa Senhora do Rosário nas cidades mineiras que mantêm a tradição. Fazemos o possível para estar presente nas festividades, para também levar o nome da nossa cidade. Parte da divulgação de nossa festa, também é realizada via convites às guardas de congado de todo o país”.
De acordo com Deolinda Alice dos Santos, Professora de Cultura e Arte Popular, Ouro Preto possui cinco guardas de congado que preservam as tradições do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, promovendo um encontro de gerações. “As tradições ouro-pretanas ainda se mantêm viva, às duras penas, apesar de suas dificuldades econômicas e sociais de todas suas irmandades e suas ordens terceiras, a cidade de Ouro Preto ainda é um dos lugares que salvaguarda às tradições, observada a sua comunidade unida na intenção de perpetuar essa tradição”, ressalta Deolinda Santos.
Kátia Silvério, Capitã da Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, valoriza a importância do Reinado ter se tornado patrimônio imaterial municipal. “Através desta iniciativa de valorização e proteção como patrimônio imaterial, garantiremos a salvaguarda dessa relevante manifestação cultural em Ouro Preto; pelo seu valor religioso, cultural e histórico, assegurando assim sua permanência e continuidade”, afirma a capitã.
Para Felipe Guerra, secretário de Turismo, Indústria e Comércio, a cada ano aumenta o fluxo turístico pela beleza da festa. “Cada vez mais os turistas estão vindo para prestigiar essa festa maravilhosa. Um momento de fé lindo do ouro-pretano, muito bem conduzido pela AMIREI, com a presença dos grupos de congado do Brasil inteiro”, ressalta.
Outra curiosidade sobre o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito é a descoberta da bandeira feita de ferro fundido encontrada na Capela do Padre Faria, mais conhecida como Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, no bairro Padre Faria, em Ouro Preto. A peça foi encontrada por Kátia Silvério, capitã do reinado de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Efigênia, que é que resgata a manifestação religiosa que evidencia o surgimento da tradição do reinado, em Ouro Preto, a antiga Vila Rica há mais de 200 anos.
A bandeira está sendo restaurada e é possível identificar alguns elementos. As imagens pintadas na bandeira são de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, todos negros. “Cerca de 45% da pintura se perdeu com a ação do tempo. Então nós estamos aos poucos repondo essa pigmentação”, contou o restaurador Aldo Araújo.
Sidnéa Santos, historiadora, pesquisadora da cultura africana e diretora de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Ouro Preto afirma a autenticidade das marcas da obra. “Por ser feita em ferro fundido e no século XVIII, ela foi feita pelas mãos de quem conhecia o ofício. Naquela época, quem dominava isso eram os africanos de Benin, Gana e Burkina Faso, sequestrados pelos portugueses e trazidos para cá”, afirma Sidnéa.
Um pouco mais sobre a origem da Festa do Reinado
Segundo a tradição oral, ainda no século XVIII, depois de alforriado, Chico Rei, que havia sido rei no Congo antes de ser vendido como escravo, conseguiu alforriar seu filho e outros membros da nação, organizando-os em torno da Irmandade do Rosário e de Santa Efigênia.
No dia de Reis, 6 de janeiro, Chico Rei e sua família foram conduzidos em um grande Cortejo festivo pela irmandade e coroados na capela de Santa Efigênia. Após a coroação, ele e sua família desfilaram pelas ruas de Vila Rica, embaixo de um pálio e escoltados por uma guarda de moçambicanos. Estava assim criada a Festa do Reinado em Ouro Preto, posteriormente sendo reproduzida várias cidades de Minas Gerais.