Belo Horizonte – O temor de um aumento de casos de Covid-19 no Estado a partir da flexibilização do isolamento social e a demanda por equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais de saúde, bem como por leitos e respiradores para os pacientes, foram algumas das preocupações manifestadas pelos deputados durante o debate sobre o programa “Minas Consciente”, que trata da reabertura gradual de estabelecimentos comerciais em Minas Gerais.

Conduzido pelo presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Agostinho Patrus (PV), o encontro foi realizado na manhã desta quarta-feira (29/4/20), no Plenário, com a participação presencial do secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, do presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Pimenta (PDT), e da presidente do Comitê Permanente de Acompanhamento das Ações de Prevenção e Enfrentamento do Novo Coronavírus, da UFMG, a professora e pediatra Cristina Alvim.

Em seu pronunciamento, Carlos Pimenta admitiu que, a despeito do cuidado demonstrado pelo governo, a abertura do comércio causa preocupação, sobretudo em regiões com alta densidade demográfica ou próximas a São Paulo e ao Rio de Janeiro, uma vez que esses estados apresentam os mais altos índices de contaminação pelo coronavírus.

O parlamentar também apresentou os principais questionamentos dos membros efetivos da comissão, como o aporte de recursos para hospitais da rede estadual e a necessidade de se aumentar o número de testes da doença.

O secretário reconheceu que o temor pela reabertura do comércio é um desafio. “É uma decisão difícil, que tem que ser tratada com muita transparência e rigor técnico. É preciso encontrar o equilíbrio entre os riscos econômicos e sanitários”, disse.

Segundo ele, a decisão de se reabrir gradativamente a economia do Estado partiu da necessidade de se padronizar minimamente as ações dos municípios. 

Carlos Eduardo Amaral ainda garantiu que a Fundação Hospitalar do Estado (Fhemig) poderá abrir mais 300 novos leitos e afirmou que o governo já enviou aos hospitais e a prefeituras do interior mais de R$ 200 milhões.

Líderes apresentam seus questionamentos ao secretário

O líder do Bloco Minas Tem História, deputado Sávio Souza Cruz (MDB), manifestou sua preocupação com a adoção de medidas concebidas em países com histórico social, econômico, climático e sanitário muito diferente do Brasil.

O secretário respondeu que o programa adotado tem inspiração no exterior, mas que está prevista a adaptação ao cenário de Minas, sempre observando as recomendadas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS).

Repasses – Em resposta ao líder do Bloco Liberdade e Progresso, deputado Cássio Soares (PSD), sobre atraso no repasse de recursos para as Santas Casas, o secretário informou que o problema já está sendo regularizado.

A pedido da deputada Delegada Sheila (PSL), Cássio Soares indagou também sobre as providências que estão sendo tomadas quanto ao aumento de pacientes do Rio de Janeiro que vêm recorrendo à rede hospitalar de Juiz de Fora (Zona da Mata).

O secretário respondeu que é importante ter solidariedade, embora tenha ressaltado que não se pode deixar de lado a preocupação com a estrutura do Estado para lidar com a pandemia.

Prevenção – O líder do Bloco Sou Minas Gerais, deputado Gustavo Valadares (PSDB), indagou à médica e professora Cristina Alvim se o comitê de enfrentamento à Covid-19 da UFMG levaria adiante o programa Minas Consciente nos moldes propostos. Ela disse que Minas tem sido bem-sucedida no combate à pandemia, mas ponderou que o ciclo da doença está apenas no início no Estado Para secretário, segurança absoluta não existe, mas plano do governo não seria precoce – Foto:Sarah Torres

O líder do Bloco Democracia e Luta, deputado André Quintão (PT), destacou, por sua vez, a necessidade de se reforçar o isolamento social. Ele defendeu mais proteção e apoio efetivo às pequenas e médias empresas e aos grupos mais vulneráveis e indagou se há segurança para se abrir a economia sem risco de um recrudescimento da doença.

O secretário admitiu que segurança absoluta não existe, mas garantiu que o plano não é precoce porque o objetivo não é flexibilizar tudo, mas coordenar e padronizar as ações.

Já o líder da Maioria, deputado Inácio Franco (PV), indagou se há uma previsão exata para o pico da doença no Estado.

Carlos Educardo Amaral relatou que a secretaria monitora diariamente os casos relacionados ao coronavírus e que Minas tem conseguido achatar a curva de atendimentos e, com isso, preparar a rede hospitalar para o atendimento da população. Ele deixou claro, contudo, que não dá para saber exatamente quando ocorrerá o pico de contágio.

Ilusão – O líder da Minoria, deputado Ulysses Gomes (PT), lamentou que os bons resultados do isolamento criem uma sensação de tranquilidade nas pessoas, que acham que podem voltar “à vida normal”. Segundo ele, dados epidemiológicos apontam a 20ª e a 27ª semanas como as mais graves. “Podemos ter o pior maio da História”, previu. Ele também cobrou mais ações regionalizadas do governo.

O secretário ressaltou que o Executivo tem trabalhado para estruturar hospitais regionais, que podem disponibilizar até 4,5 mil leitos. 

Retomada de atividades tem que ser monitorada

Durante a apresentação do programa Minas Consciente, Carlos Eduardo Amaral disse que o governo vai orientar a retomada gradual da economia junto com o monitoramento permanente das ações para contenção da Covid-19.

Segundo ele, as medidas governamentais e o isolamento social de parte da população conseguiram desacelerar o avanço da doença, o que motivou cerca de 200 cidades a permitirem a volta de atividades antes suspensas. Daí a necessidade de um acompanhamento rigoroso, para que os benefícios iniciais das medidas de contenção não sejam perdidos.

A liberação das atividades será lenta e gradual, por ondas, começando por aquelas que envolvam menos risco de disseminação do coronavírus. Shows, cinemas, grandes eventos, clubes e atividades esportivas continuam suspensos. A retomada das atividades escolares presenciais será avaliada futuramente.

Ainda segundo o secretário, o plano do governo prevê ações regionalizadas, mas não será imposto. “Nosso papel é de coordenação, instrução e orientação, mas não faremos intervenção nos municípios”, afirmou.

estratégia de monitoramento do Executivo, segundo Carlos Educardo Amaral, baseia-se na evolução da doença e na capacidade operacional do sistema de saúde de cada região, diariamente.

Epidemia sem controle traria mais riscos para a economia

A professora Cristina Alvim, por sua vez, afirmou que a medida mais eficaz para evitar o colapso dos sistemas de saúde continua sendo manter o máximo de isolamento social possível.

Para ela, é inegável que o isolamento social traz prejuízos econômicos, sociais e emocionais. No entanto, ela alertou que uma epidemia sem controle traz prejuízos muito maiores, inclusive para a economia.

Integrante de uma equipe de 30 pesquisadores, ela reforçou o fato de o vírus apresentar transmissão em larga escala e, mesmo não sendo tão letal quanto outros já conhecidos, levar para os hospitais de 15 a 20% dos atingidos.

Na sua opinião, a quantidade de testes que Minas vem realizando não é suficiente para se fazer análises com segurança. “Com um número de testes tão baixo, a amostragem pode ficar comprometida”, avaliou.

O secretário de Saúde reconheceu que o Estado ainda não conseguiu adquirir um expressivo número de testes, por causa do desabastecimento mundial de insumos. Segundo ele, a maioria dos testes recebidos do Ministério da Saúde são do tipo que mede a imunoglobulina ou resposta imune à doença e serão destinados prioritariamente aos profissionais da área de saúde.

Fonte: Assessoria de Imprensa ALMG

Fotógrafo: Sarah Torres