O fóssil humano, supostamente datado de 10 a 12 mil anos e que faz parte do acervo do Museu de Ciência e Técnica (MCT) da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), foi coletado por alunos da Sociedade Excursionista e Espeleológica (SEE) da Escola de Minas de Ouro Preto, durante expedição de campo na região de Lagoa Santa (MG). O achado tem suscitado crescente interesse acadêmico dentro e fora da Universidade, dado seu potencial vínculo com outros fósseis históricos encontrados na região, como Luzia, um dos mais antigos esqueletos humanos de que se tem conhecimento nas Américas.  

A coleta, realizada em 1939, se deu a partir de escavações na chamada Gruta da Pontinha. Dentre as peças encontradas, que não necessariamente podem pertencer a um mesmo indivíduo, o crânio dolicocéfalo (mais longo do que largo, basicamente) completo é a principal delas. Todo o material foi trazido inicialmente para o Museu de Paleontologia do MCT e, desde então, permanece sob os cuidados da Instituição, mas agora no setor de História Natural.

De acordo com o artigo “Contribuição ao estudo do homem fóssil de Lagoa Santa”, de autoria da professora Áurea Duarte Pereira Pinto, publicado na edição de 1983 da Revista Escola de Minas, o crânio em questão estaria em um adiantado estado de fossilização. O texto ainda destaca que, apesar de ter sido encontrado com alguns ossos quebrados, ele foi restaurado com cera de abelha, motivo pelo qual não evidencia sua conformação original. Os dentes encontram-se em perfeito estado de conservação e a arcada dentária superior apresenta-se com a mesma conformação parabólica encontrada no gênero Homo. Trata-se de um indivíduo jovem, pois seus dentes mostram sinais de pouca usura e não se observa diastema nas arcadas.

Como mencionado pela vice-coordenadora do MCT, Daniela de Oliveira Pereira, o fóssil é mais um dos tesouros dentro do rico acervo do MCT. Com o passar dos anos e com novos estudos, sua importância e raridade começaram a ser consideradas, o que o coloca como destaque e valioso material de estudo. Neste sentido, por se tratar de um assunto extremamente complexo por diversas questões, como o tempo transcorrido e a consequente dificuldade no acesso às informações, que cada vez mais estão sendo buscadas, muitas lacunas seguem abertas e aos poucos vão sendo preenchidas. Suposições, incertezas e dúvidas se fazem bastante presentes, o que implica em um maior cuidado na abordagem do assunto. 

O geólogo e atual curador do acervo do MCT, Anderson Vital Sales, que ocupa o cargo desde 2017 e conhece o museu como poucos, enfatiza sua felicidade e animação diante do renovado interesse pelo fóssil. Apesar disso, ele ressalta a necessidade de redobrar os cuidados na divulgação de qualquer informação. Anderson menciona que, entre as linhas de pesquisa em desenvolvimento, uma possível relação com Luzia — encontrada em 1974 (quase 40 anos depois do “Homem de Santa Luzia”) e pertencente ao acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro — é uma das principais. Embora o fóssil de Luzia tenha aproximadamente 15 mil anos, o fato de terem sido encontrados na mesma região geográfica sugere uma possível contemporaneidade. Esse vínculo, caso confirmado através de técnicas de datação, como Carbono – 14, seriam de grande relevância para a continuidade dos estudos, especialmente considerando que o fóssil possui histórico limitado de pesquisa.

Segundo Daniela, essa falta de informações também tem um lado positivo, já que constitui uma grande oportunidade para novos estudos e descobertas. Ela ressalta que o Museu também está implicado no tripé ensino, pesquisa e extensão da Universidade e, portanto, pensando especialmente no contexto da UFOP, há essa chance para que os próprios membros da comunidade acadêmica interessados pelo assunto possam contribuir. “Saber sobre o nosso passado, para entender o nosso presente e tentar, quem sabe, projetar o nosso futuro é super necessário”, avalia.

Fonte: Assessoria Ufop

Foto: Clara Lamacie/ACI