Diante de inúmeros problemas relacionados ao reassentamento, acesso à água potável, saúde e recuperação ambiental, evidenciando a ineficiência do processo de reparação, as pessoas atingidas lançam o questionamento: como contar o tempo que não volta?
Mariana – Na próxima terça-feira, 5/11, completam-se nove anos do rompimento da barragem de Fundão. Os atingidos realizarão em Bento Rodrigues, às 9 horas “Ato em memória das pessoas que morreram em decorrência do rompimento da barragem de Fundão e em atenção à não repetição dos danos diante do Projeto a Longo Prazo”. A informação é da Assessoria Técnica Independente – Cáritas-MG.
De acordo com a Caritas, as pessoas atingidas seguem enfrentando graves dificuldades na reparação de danos que ainda marcam profundamente suas vidas e territórios. Os desafios incluem problemas como falhas no reassentamento, falta de acesso à água, negligência na recuperação do solo, precariedades habitacionais, e uma sobrecarga judicial com mais de 50 mil ações buscando justiça e indenização compatíveis com a complexidade e a extensão das consequências do rompimento.
Para a Assessoria Técnica, embora as empresas envolvidas, incluindo a Fundação Renova, aleguem que o processo de reparação estaria, neste momento, próximo de sua conclusão, a realidade não sustenta essa afirmação.
Segundo a equipe técnica da Cáritas MG | ATI Mariana, dados recentes de 2024 apontam que 85,98% das moradias reassentadas apresentam falhas de acabamento, 60,64% têm esquadrias defeituosas, e outros 32,09% sofrem com infiltrações, além de fissuras nas construções (31,25%). O déficit de área, com lotes menores que os anteriores ao rompimento, agrava a situação, inviabilizando o restabelecimento das condições de vida anteriores. Os núcleos familiares que não são contemplados pelo reassentamento coletivo também sofrem com a impossibilidade de retomar suas formas de produção e atividades econômicas. Em todas as comunidades há casos de famílias que perderam suas fontes de renda e ainda não conseguiram recuperá-las após o rompimento.
Acordo de repactuação é assinado sem participação das pessoas atingidas
A Cáritas informou que “Os termos definidos para a repactuação já vinham sendo negociados há quase dois anos, sem ouvir as pessoas atingidas. Da mesma forma, a assinatura do acordo revela o modo como o processo foi conduzido: de portas fechadas, sem a participação efetiva das comunidades atingidas em sua construção. É importante salientar que uma reparação justa é aquela que está alinhada com as necessidades, desejos e perspectivas dos maiores interessados na garantia de seus direitos, com a devida responsabilização das mineradoras e com ferramentas de controle social.”
Programação do marco de 9 anos em Mariana:
04 de novembro de 2024
● Abertura da exposição “Como contar o tempo que não volta?”, com fotografias das comunidades atingidas. Local: Instituto de Ciências Humanas e Sociais – ICHS/UFOP (Mariana). Horário: 18h às 22h
05 de novembro de 2024
● Ato em memória das pessoas que morreram em decorrência do rompimento da barragem de Fundão e em atenção à não repetição dos danos diante do Projeto a Longo Prazo. Local: Bento Rodrigues (Origem). Horário: 9h
● Caminhada em Mariana (MAB)
Concentração no Centro de Convenções Alphonsus de Guimarães. Local: Av. Getúlio Vargas, 110 (Mariana). Horário: 14h30
● Intervenção e Projeção visual (Cáritas MG, Conterra e Minuto de Sirene). Local: Praça Minas Gerais (Mariana). Horário: 16h
06 de novembro de 2024
● Distribuição de mudas. Local: Escola Família Agrícola Paulo Freire (Acaiaca). Horário: 7h
11 de novembro
● Encerramento da exposição “Como contar o tempo que não volta?”. Local: Instituto de Ciências Humanas e Sociais – ICHS/UFOP (Mariana). Horário: 18h
Fonte: Assessoria Caritas
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil