Por Cláudia Marliére – Reitora da Universidade Federal de Ouro Preto
O aniversário de Ouro Preto sempre chama muita atenção e nos convida à reflexão sobre um território que é, no mínimo, uma singularidade, tamanho o conjunto de fatos e situações diversas concentrados em um só lugar.
São mais de 300 anos que guardam histórias de opulência, opressão e revolução.
Uma cidade que nos idos de 1760 chega a ter o dobro da população de Nova York, nos Estados Unidos – cerca de 80 mil habitantes –, fornecendo, durante 70 anos, mais da metade de toda a produção mundial de ouro de três séculos, segundo registros históricos.
Um local que se constitui, assim, por uma efervescência comercial, artística e cultural, mas que deixa também um legado de opressão e sofrimento, consequência de uma sociedade de lavra, que se estabeleceu sob uma severa ordem escravocrata, deixando grande mácula construída na trajetória do Brasil Colônia.
A diversidade de ideias, porém, faz surgir em seu seio um legado histórico de revolução, de luta contra a opressão, tornando a região uma referência de ideais libertários para todo um país que vivia sob o jugo de um império.
Com esse mesmo espírito, acredito, é que nós, ouro-pretanos, vamos conseguir superar a severa crise política e sanitária experimentada pelo país. Assim como nossos ancestrais venceram a escravidão e a opressão no passado, vamos vencer o vírus e todos os desafios impostos pelo presente.
Para isso, faz-se necessário resgatar o processo de educação centenária que colocou Ouro Preto como referência nacional. A Escola de Farmácia, patrimônio ouro-pretano e mundial – que comemorou 182 anos em abril deste ano –, chegou à nossa cidade já nos ares da República. Seu museu conta importantes aspectos dessa história.
A Escola de Minas, que vem logo depois, no ano de 1876, sendo a pioneira no país em estudos mineralógicos, geológicos e metalúrgicos, guarda também em seu acervo um recorte da constituição de uma região complexa. Somada à Escola de Farmácia, temos a base da Universidade Federal de Ouro Preto, criada em 1969.
De lá para cá, a incorporação de novas áreas do conhecimento também deve ser destacada. A educação, a pesquisa e a extensão, assim, vêm deixando um legado crítico para o entendimento do que se passou e o que se passa por aqui – tendo em conta as assimetrias experimentadas por nossa sociedade, não apenas econômicas, mas sociais e raciais, entre outras, que precisam ser combatidas –, lançando e fortalecendo bases para a busca de um futuro melhor, mais justo.
Fazer parte dessa história centenária, portanto, é motivo de orgulho para toda a comunidade ufopiana, que ainda tem muito a contribuir.
Parabéns, Ouro Preto!
Parabéns, ouro-pretanos!