Ouro Preto foi pioneiro na imprensa mineira e até hoje tem a construção de sua história feita pelos jornais que circulam pela cidade. Existiram muitas pessoas importantes para fazer com que isso acontecesse, a primeira delas foi o Padre Viegas, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal. 

Para contar essa história, o Diário de Ouro Preto consultou diversas pesquisas e fontes, sendo a principal Francelina Drummond, autora do livro “Imprensa de Ouro Preto no século XIX”, publicado pela Editora Liberdade, uma empresa ouropretana.

José Joaquim Viegas de Menezes nasceu em 1778 em Ouro Preto. Aos 19 anos foi para Portugal, se tornou padre e aprendeu as técnicas de tipografia e calcografia com o frei José Marianno da Conceição Veloso, também mineiro. 

Em 1802, Viegas retorna a Ouro Preto com conhecimentos gráficos nunca vistos pela então província de Minas Gerais. A primeira impressão mineira reconhecida pelos historiadores data de 1806. O autor Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos escreve um poema para o governador da província, Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, que pede ao Padre Viegas que faça sua impressão. Francelina explica a história: “A pedido do governador, Padre Viegas abriu os retratos do governador e sua esposa e as chapas a buril, gravando nelas o poema. A tiragem foi pequena, mas o gesto, ousado, pois era proibido publicar e fazer circular publicações no Brasil.”

De acordo com o jornalista e historiador José Pedro Xavier da Veiga em “A Imprensa em Minas Gerais (1807-1897)”, a primeira tipografia foi construída artesanalmente por Padre Viegas e Manuel José Barbosa. Xavier relatou que a tipografia era “com todos os recursos da terra”. Surgiu daí, portanto, a Tipografia Patrícia de Barbosa, uma vez que “Patrícia” significa “terra”. 

A Tipografia Patrícia de Barbosa foi a responsável pela edição dos primeiros jornais mineiros: Compilador Mineiro (1823-1824), Abelha do Itacolomi (1824-1825) e O Universal (1825-1842). Não se sabe ao certo se essas impressões foram feitas pela prensa do Padre Viegas, que hoje se encontra na Sala do Império no Museu da Inconfidência. A pesquisadora Francelina Drummond relatou ao Diário de Ouro Preto que acredita que não, pois a demanda seria muito grande. 

Alguns anos antes do início da imprensa em Ouro Preto, no Brasil já existiam alguns periódicos, como “Gazeta do Rio de Janeiro” (1808) e “Idade D’Ouro do Brasil” (1811). “Esses primeiros momentos da imprensa no País enfrentaram o controle: monopólio oficial das tipografias e censura prévia. A censura prévia ficou intocada até 1821 e abolida em 1822”, ressalta a pesquisadora.

Ouro Preto é um dos lugares mais importantes da história do Brasil, e também é considerado o berço do jornalismo em Minas. O livro de Francelina Drummond retrata de forma importante e minuciosa os caminhos que a imprensa foi tomando ao longo do século XIX. No dia 30 de julho, o livro será lançado às 19h na Biblioteca Pública de Ouro Preto. 

“Localizei 148 periódicos publicados na cidade entre 1823 e 1900. Muitas linhas editoriais, tendências variadas, circulação simultânea de diversos periódicos, duração relativamente grande de muitos títulos (ao contrário do que até hoje muitos costumam afirmar). Uma imprensa relevante que formava e refletia o ambiente cultural da cidade, a formação do público, a revelação de muitos escritores e poetas, a vida política e administrativa da cidade como Capital da Província, a vida estudantil, os setores combativos da sociedade, a representação das colônias estrangeiras de imigrantes e tantos outros”, relatou Francelina ao Diário de Ouro Preto.

A imprensa em Ouro Preto cumpre seu papel de historiadora há 201 anos. Os momentos mais importantes desta cidade podem ser vistos em antigas manchetes e fotos em preto e branco. Hoje, o jornal Diário de Ouro Preto completa 20 anos de existência, comemoramos também o pioneirismo da imprensa em Minas Gerais, que foi possível graças aos conhecimentos gráficos de Padre Viegas.

Por Marcella Torres – texto e fotos