Ouro Preto –  A cidade despediu-se do artista multifacetado Vanderlei Alexandre da Silva, o Vandico. Artista Plástico, Escritor, Compositor, Cantor e Carnavalesco, que nos deixa numa segunda-feira de folia, 28/02. O prefeito Angelo Oswaldo decretou luto oficial por 3 dias.

Quem nunca correu atrás das balas jogadas para a garotada no domingo de páscoa? Essa era uma das atrações da tarde, depois da procissão da Ressurreição. Judas montado num cavalo, ou num burrinho, lá ia Vandico puxando o animal pela rua afora, “O Judas já morreu com a cachaça que bebeu!” Vicente Gomes lembrou nesta manhã que a criação da queima do Judas no Pilar, foi ideia de Vandico.

Vandico durante a Leitura do Testamento 2007 – Foto Marcelino de Castro

 A leitura do testamento do Judas, debulhando os políticos locais era o interesse de todos. O mundo político arrepiava com as sátiras, ironias e espetadas deixadas pelo pobre Judas,  que seria devidamente queimado em praça pública, com direito de ter o estopim acendido pelo próprio Padre Simões.

Vandico se expressou de várias formas, pela música como compositor e cantor, nas Artes Plásticas e como Carnavalesco. Deixará saudades e uma grande obra musical, que confiou ao amigo Jorge Adílio. Assim como no samba antes de se despedir deixou ao sambista mais novo suas obra musical.

As composições serão estudadas e executadas pelos alunos da Faculdade de Música da Ufop, sob a coordenação do Professor Edésio Lara, como informou Jorge Adílio na abertura da exposição referente ao Carnaval. Que hoje nos envia a seguinte nota:

“Tudo se acabou, saudade ficou brincando nas ruas. Fim de carnaval, desengano, tristezas para quem sambou”. Estes são versos da belíssima marcha-rancho, Fim de Carnaval, do grande compositor, poeta, artista plástico e escritor Vanderlei Alexandre da Silva, o Vandico, que nos deixa no dia de hoje. Tinha que ser em pleno carnaval, como seu irmão Pedro. Mas não é dia de tristeza. Vandico viveu seus 85 anos com muita alegria e irreverência como deve ser o carnaval. Já cantava, na década de 1970, sua marcha: Tempo do Carná na Rua São José, onde reclamava da corda cercando o povão: ” mas  hoje o desfile na Praça perdeu toda graça, cercando o povão. É corda pra cá, é corda prá lá, recorda menina, eu acho bom recordar. E quando teve a ousadia de compor um samba enredo para a Escola de Samba Império do Morro Santana, onde dizia no refrão: “pena de morte para quem peidou, debaixo das cobertas do doutor” Vai com Deus amigo e padrinho de casamento. Obrigado. Sua arte será eterna.  Jorge Adílio. 

Vandico foi leitor, sugeria pautas e ocupou as páginas do diário de Ouro Preto, seja com o Judas, como na capa que comemorou os 3 anos do jornal, ou com suas exposições no GLTA, Museu da Inconfidência entre outras galerias. 

Capa da Edição impressa do dia 8 de Julho de 2007

A capa do jornal é um local cobiçado. Quantas autoridades desejariam estar alí, naquiele 8 de julho de 2007? Para reafirmarmos a independência do diário de Ouro Preto, na capa de aniversário está Vandico, dando a volta na praça Tiradentes, passando na porta da Câmara, que provavelmente naquela edição teria algum membro da legislatura citado no Testamento do Judas, que ladeira baixo desceria para a hora esperada pela criançada e por muitos marmanjos também, a Queima!

Ao chegarmos neste 28 de fevereiro de 2022, vemos como foi importante evitar naquela edição as chamdas e anúncios de capa. O patrimônio imaterial precisava ser “tangibilizado” e distribuido gratuitamente por toda a cidade em comemoração do aniversário de Ouro Preto.

A cidade se renova a cada data comemorativa. Vandico saldava a Páscoa com sua queima do Judas. O artista está com uma de suas grandes atrações devidamente imortalizada na capa do diário de Ouro Preto.
Se vai o artista, a Obra fica.
Prestamos condolências à família e a todos os amigos.

Por Marcelino de Castro

Atualizada às 16h21