A coluna de hoje é dedicada à Jornalista Míriam Leitão
Ouro Preto – Hoje vamos falar do dia 21 de abril, feriado nacional em que o país reverencia a memória do Tiradentes, única vítima da Conjuração Mineira, sem contarmos Cláudio Manoel da Costa, dado como suicida. Os padres e os intelectuais, foram degredados para as colônias da África.
Mesmo com todo seu esquema de segurança e com a Praça praticamente toda vazia, para não ter empecilhos, o Governador Romeu Zema teve que ouvir os gritos do povo, o áudio chegou a entrar na transmissão ao vivo da Rede Minas.
A praça foi rodeada de gradil de fora a fora, dando um corredor, nas calçadas. Durante todo o dia foram feitos relatos de dificuldades e transtornos causados pela restrição de passagem. Até o caminho para a missa da manhã de uma moradora da Barra, em busca da Basílica do Pilar, se atrasando tendo que dizer aos guardas que precisa chegar na igreja, enquanto eles cobravam as pulseiras de identificação de moradores. Segundo a moradora que prefere não se identificar, tirou do bolso o terço e apresentou como “pulseira de identificação”. A Senhora narrou que diante do argumento e o toque do sino…, a deixaram passar. Ela disse que com tanta gente e segurança, nem para colocar na rádio ou bater na porta dos vizinhos e dizer que seria necessário utilizar uma pulseira de identificação.
Enquanto isso, outras vias estavam também com restrições, mas apesar de praticamente a praça ter sido usada do museu até o monumento, ou seja, a parte de cima da praça toda cercada ainda permitiu que os gritos de protestos entrassem na transmissão ao vivo da Rede Minas.
Após cumprir os ritos e ouvir a Salva de 21 tiros em homenagem ao Alferes, Zema e Temer, acompanhados das autoridades presentes seguiram para o centro de Convenções da UFOP, no salão diamante foram entregues as comendas.
Romeu Zema condecorou Michel Temer, que em seu período diante da Presidência da República não teve o merecimento de ser condecorado em Minas Gerais, mas claro, além de substituir a mineira Dilma Rousseff (PT) estava em pé de guerra com o então governador, Fernando Pimentel, o qual exigia um encontro de contas com o Governo Federal para resolver a dívida do Estado com a União, da qual esperava receber também. Sem acordo, o Estado ficou arrochado e acabou atrasando os salários dos servidores.
Sem poder pedir para ser condecorado por Pimentel, Temer (em sua vaidade republicana) devia estar angustiado por não ter recebido a condecoração. Mas eis que surge Zema, que pode ter concedido essa honraria como uma afronta aos petistas, só que Zema não lembrava ou não sabia que Temer vendeu as 4 maiores usinas da Cemig a preço de banana, prestou um grande desserviço ao Estado e mesmo assim foi condecorado, que pena.
Tudo corria bem, apesar do gritos de “Fora Zema” e “Golpista”, na praça Tiradentes. Zema nem imaginava que apesar de toda a segurança e o staff mobilizado para o centro de Convenções da UFOP, não seriam suficientes para calar o povo. De onde menos se esperava veio a batida na cangalha, o prefeito Angelo Oswaldo num momento de perspicácia e tenacidade num português claro, rasgou o verbo com o governador que se diz catedrático em Mineirês.

Com seu discurso afiado (fico pensando quantos dias escreveu e rescreveu esse discurso) Angelo Oswaldo inicialmente parecia que ficaria envolto no tema histórico da Figura de Tiradentes. Ledo engano, já em sua segunda página do discurso se dirigiu diretamente ao Governador e bateu na cangalha!
“Vossa Excelência assegurou, no discurso inaugural do seu segundo mandato, que a reparação da tragédia da Samarco, Vale, BHP e Renova é uma prioridade. Urge, de fato, Governador, que a compensação se efetive, pondo fim ao descalabro praticado pela Fundação Renova e à tergiversação que protela as decisões e corrói o acordo. Pensemos no que diria o Tiradentes hoje, quase oito anos após o desastre que não acaba. “Ah!, se eu me apanhasse em Minas!” – bradaria outra vez o animoso Alferes, pronto a comandar os mineiros contra a ditadura das mineradoras”, e não parou por aí.
Angelo Oswaldo disse que “o apelo de Ouro Preto, das cidades históricas e municípios da mineração – ontem do ouro, hoje do ferro – é no sentido de que o governo de Minas Gerais, em parceria com o Espírito Santo, a União Federal e o Ministério Público, envolvendo as municipalidades vitimadas, promova o mais depressa possível a compensação a que temos pleno direito. Sem tais recursos, Senhor Governador, continuaremos a lamentar nesses paredões de quartzito e canga a sina tricentenária da exploração a que estamos acorrentados. Não é mais possível sustentar a longa e assombrosa espera”.
E as críticas não terminaram. “É visível o drama. Nossas rodovias estão destruídas, nossos rios poluídos, nossa população empobrecida. Projetos sociais de relevância carecem dos recursos financeiros retidos pelas querelas ou malbaratados pelo desperdício acintoso da Fundação Renova. As nossas comunidades sentem-se enganadas e angustiam-se diante das respostas sempre adiadas. As gerações vitimadas pelo desastre de 5 de novembro de 2015 querem a reparação imediata do crime.
Como Governador de Minas Gerais, Vossa Excelência assinou o acordo de Brumadinho, porque os mineiros sabemos ser melhor um acordo insuficiente do que um desacordo sem fim. De igual modo, possa Vossa Excelência rematar os entendimentos necessários e dar termo a tamanho absurdo. É o que os municípios atingidos esperamos do Governador de Minas Gerais. Que Tiradentes, cujo nome consagra o palácio administrativo do governo do Estado, inspire Vossa Excelência na solução tão aguardada. Imprescindível o registro de que, segundo a Agência Nacional de Mineração e a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil, AMIG, corajosamente presidida pelo prefeito José Fernando Aparecido de Oliveira, a Vale deve cerca de 400 milhões de reais somente ao Município de Ouro Preto, enquanto a dívida da Samarco, apurada em dois anos, ultrapassa a marca de 300 milhões de reais. O valor da compensação do desastre de 2015 ainda não está devidamente mensurado e nada foi até hoje pago a Ouro Preto, sede das atividades da Samarco.”
Ao se dirigir ao público presente Angelo Oswaldo lembrou que há 200 anos Ouro Preto recebeu o título de “Imperial cidade de Ouro Preto”, parabenizou Itabirito pelo seu centenário, sendo condecorada com a Medalha da Inconfidência pela indicação de Ouro Preto.
Tudo parecia se acalmar, Angelo Oswaldo assoprava elogiando a parceria do Estado para que a rede de hotéis portuguesa assume o Dom Bosco, em Cachoeira do Campo. O Prefeito também agradeceu os recursos disponibilizados pelo Estado para o restauro da Escola de Minas, antigo palácio dos Governadores, do cinema e o saneamento básico do campus da UFOP, nessa hora Zema deve ter respirado aliviado, sem saber que os recursos foram repassados parcialmente, como apuramos com a UFOP.
Nem imaginava o governador que viria outra batida na cangalha. Angelo Oswaldo cobrou a verba bloqueada no Estado. “Aguardamos do Governo do Estado a liberação de cerca de 30 milhões de reais que a querida presidente Dilma Rousseff destinou a Ouro Preto, em 2012, para a contenção de encostas em risco, como o Morro da Forca, situado bem ao lado deste Centro de Convenções. A incúria de gestões do Município retardou sua aplicação, mas a burocracia do Estado faz com que tais verbas se desvalorizem e se tornem insuficientes, quando já poderiam ser investidas, pelo menos desde 2021, na proteção dessa encosta que tanto surpreendeu a todos, no instante em que adentraram neste recinto”.
E enquadrou o governador: “Pedimos a determinação de Vossa Excelência, Senhor Governador Romeu Zema, a fim de que os entraves burocráticos não mais retenham um processo técnico já concluído (…) Da parte da Prefeitura de Ouro Preto, cumprimos até além do nosso dever.”
Encerrando seu discurso, O prefeito Angelo Oswaldo arrancou aplausos da platéia quando falou da recriação do Ministério da Cultura. “Quero saudar, ao final desta fala, a recriação do Ministério da Cultura e das políticas públicas para o campo cultural, pelo governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Sofremos com a destruição dos projetos culturais e a asfixia das universidades, entre tantas perdas que o Brasil experimentou no triste período anterior. Esperamos que programas robustos efetivamente garantam a valorização da cultura, implicando também a revitalização das vertentes da educação, ciência, tecnologia, inovação, ecologia e turismo como alternativas para além da hegemonia da mineração.”
Manifestações
A tradição de manifestações populares no 21 de abril foi mantida, a Central Única dos Trabalhadores (CUT Minas) e o Sind Ute (Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação) estiveram presentes. Apesar de ter restringido o acesso à Praça Tiradentes, o governo não ficou sem ouvir a voz dos manifestantes. “ Zema caloteiro, cadê nosso dinheiro”, com esse grito de guerra se reuniram na rodoviária para o Ato, que reivindica o rateio do FUNDEB e o Piso Nacional dos Professores.
A manifestação contou com as presenças dos deputados estaduais, Bella, Beatriz Cerqueira, Leleco Pimentel e do deputado federal Rogério Correia.
O deputado estadual Leleco Pimentel não foi ao Centro de Convenções receber a medalha. Ele disse que a medalha da Inconfidência é uma honraria do Estado e não do governador, e que não estaria no mesmo recinto que “o golpista Michel Temer e o ex-juiz Sérgio Moro”.
À noite o deputado Leleco juntamente com sua esposa e amigos assistiu ao show dos quatro irmãos, na praça Tiradentes. Leleco pretende realizar a audiência pública sobre a Saneouro na praça. “Espero que na audiência a praça esteja mais cheia que hoje”.







A Coluna Tiquinho de Política de hoje dedico à mineira de Caratinga, jornalista Miriam Leitão, que ficou surpreendida com a afirmação do Governo de Minas, o qual qualificou a Conjuração Mineira como um golpe à Coroa, Portuguesa.
É Miriam, parece que além das aulas de Literatura (pois não conhecia Adélia Prado), Zema também faltou às aulas de história, para deixar que fosse realizada uma publicação oficial como a que questiona.
A Coluna Tiquinho de Política é publicada aos domingos em diariodeouropreto.com.br
Por Marcelino de Castro
Foto destaque: Salva de 21 tiros/ Crédito Cristiano Machado- Imprensa MG