Por Willian Adeodato

O fim de um canal de comunicação empobrece a democracia. Se esse veículo é  educativo, pior ainda. O encerramento das atividades da Top Cultura de Ouro Preto  significa que a comunidade perde um instrumento que foi talhado para fazer a defesa  dos interesses coletivos.

Escrever sobre esse momento é emocionante. A Top Cultura  foi o meu primeiro emprego como jornalista, à época, recém-formado na Fafi-bh, hoje  Uni-Bh, uma instituição de ensino particular, coirmã da Top Cultura, ambas mantidas  pela FundacBH. Gosto de dizer nas minhas conversas sobre comunicação que na Top  Cultura pude praticar o jornalismo que aprendi na academia.

Vale destacar que o projeto  pedagógico do curso era inspirado no modelo de jornalismo estadunidense, onde a  imprensa é o cão de guarda dos interesses da sociedade. Qualquer ameaça às  configurações mínimas de sobrevivência da comunidade, o jornalista tem obrigação de  defender o povo.

Além disso, na Top Cultura tínhamos total autonomia para tratar os  diversos temas da vida em sociedade. Um bom exemplo foi a cobertura da Câmara  Municipal de Ouro Preto. Quando fui designado para o exercício dessa função, percebi  que poderíamos contribuir para tornar aquele espaço no que ele realmente deve ser,  um local de solução para os problemas da comunidade. As reuniões excessivamente  burocráticas do parlamento municipal nos motivaram a incentivar a comunidade da  região a ocupar aquele espaço.

A nossa estratégia era simples. Quando chamados para  denunciar alguma irregularidade cometida pela administração pública, orientávamos a  população a comparecer à Câmara em grupo com cartazes e solicitar o uso da tribuna  a fim de fazer as reivindicações a que tinham direito. Até então, o púlpito era de uso  exclusivo dos vereadores. Anos depois, uma das gestões do parlamento incluiu essa  prática no regimento interno do Legislativo Municipal. E para demonstrar que a nossa  posição em defesa do povo nunca foi tranquila, pelo contrário, tivemos que enfrentar e  contrariar diversos interesses.

Essa é uma das diversas histórias que guardo na  memória dos momentos únicos que vivi como profissional de comunicação contratado  pela Top Cultura que é a abreviatura de Televisão Cultura de Ouro Preto, nome que  partiu de uma sugestão minha aos gestores do empreendimento com quem tinha  proximidade como aluno de jornalismo da antiga Fafi-BH, onde tive a oportunidade de  contribuir com o movimento estudantil na fundação do Centro Acadêmico dos  Estudantes de Comunicação. 

Para não mais emendar uma recordação à outra, quero terminar dizendo que, graças à  Top Cultura e ao nosso trabalho na emissora, fui agraciado com o Título de Cidadão  Honorário de Ouro Preto por iniciativa da então vereadora Crovymara Batalha, a quem  aproveito para agradecer pela gentileza de ceder uma de suas indicações para eu  concorrer ao ilustre diploma que me tornou ouropretano por delegação dos  parlamentares. 

Depois de vinte e seis anos de bons serviços, o encerramento das atividades da Top  Cultura nos deixa com o sentimento de que a comunicação está menos democrática,  menos plural e menos diversa.

Foto: Debate da TV 2008/ Arquivo Diário de Ouro Preto/Marcelino de Castro