“Para além das ideias de certo e errado, existe um campo. Eu me encontrarei com você lá.”
Com esta frase, o poeta persa Rumi nos convida a um encontro, que só é possível quando
rompemos barreiras de conceitos pré-estabelecidos e de verdades absolutas. Para chegar lá, é
necessário compreender que a história não tem dois lados, mas é múltipla e construída
coletivamente.


O caminho até este campo proposto pelo escritor, não é uma corrida de 100 metros, muito
menos uma maratona com rota definida e linha de chegada. É, na verdade, uma jornada
contínua de evolução cultural e ampliação de consciência.


Mas sempre é necessário um ponto de partida. E, para isso, não há uma receita de bolo ou
pedra fundamental, pois o que torna esta jornada ainda mais bela são os diversos caminhos
possíveis. Neste sentido, compartilho um pouco de nossos aprendizados e passos na Samarco,
que tem como norte um valor inegociável, que nos acompanha nos 45 anos de nossa história:
o respeito às pessoas.


Após um período de desafios e aprendizados, com o planejamento para retomada de nossas
operações, nasceu o propósito de fazer uma mineração diferente, mais segura e sustentável.
Intimamente ligadas ao propósito, em um terreno fértil, germinavam também nossas reflexões
sobre as mudanças que seriam necessárias e dentre elas a diversidade, equidade e inclusão.
Olhar para o futuro, planejar e buscar uma mineração feita por pessoas e para pessoas deve
considerar que somos diferentes e, ao mesmo tempo, únicos (as). Desta forma, garantir
direitos, reforçar o respeito e promover um ambiente seguro – fisicamente e
psicologicamente, foi o caminho que decidimos seguir.


Com este objetivo nasceu o Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão, que completa um
ano e visa proporcionar um ambiente em que as pessoas possam ser quem são, mostrando o
melhor que podem ser.


São nossos primeiros passos nessa caminhada, mas que já apresentam resultados visíveis em
nossa empresa e em nossas pessoas, pois o programa não é uma ação pontual ou de uma área
isolada, é fruto de uma construção coletiva. Neste sentido, diferentes olhares contribuíram e
elaboraram um plano robusto, com foco nas ações estruturantes, demonstrando que ainda há
uma longa jornada e um amplo espaço de melhorias.


Um olhar interno, também atento às nossas vulnerabilidades. Assim como o setor, há grupos
que historicamente são minorizados e enfrentam barreiras e, por isso, possuem pouca
representatividade em nossa empresa, como demonstra o censo interno, realizado no último
ano. Por isso, formamos grupos voluntários focados em gênero, raça, pessoas com deficiência
e LGBTI+, que seguem conosco como protagonistas nesta jornada de transformação cultural.
Com foco na empresa que queremos ser, definimos metas específicas não só de
representatividade, mas também para garantir oportunidades em cargos de liderança e de
nível superior. Considerando a importância estratégica da diversidade para nosso negócio,
estas metas foram incorporadas em nossa gestão e governança e estão refletidas na avaliação
de desempenho e remuneração variável de nossos (as) gestores (as).


Para alcançá-las, iniciamos ações de porta de entrada afirmativas, como o estágio para
mulheres na mineração, Programa para pessoas com deficiência e o Programa Aprendiz para pessoas negras. Dar oportunidade de ingresso e crescimento dentro de nossa empresa é mais
do que uma meta, é um compromisso coletivo.


Tão importante quanto abrir as portas para essas pessoas, é preciso ter um ambiente propício
para recebê-las. Sabemos de nossas fragilidades, sobretudo em nossas estruturas, por isso
iniciamos uma séria de adaptações, como a implementação de novos banheiros femininos na
área operacional, a construção de rampas e acessibilidade em nossas unidades, criação de
salas de amamentação, entre outras. Medidas que estão em curso, pois acreditamos que “o
caminho se faz caminhando”, como diria Paulo Freire, e as pessoas que chegam nos ajudam a
compreender e construir uma Samarco mais inclusiva.


Muito mais do que estruturas e equipamentos, sabemos que a qualidade do ambiente
organizacional é resultado da cultura e das ações de nossas pessoas. E cada uma delas possui
um modelo mental, suas crenças, percepções e seu jeito de ser. Por isso, há um esforço
autêntico da empresa na capacitação e letramento para ampliação da consciência. Não se
trata de mudar crenças, mas de respeitar genuinamente as pessoas.


Também não se trata de convencimento ou imposição – pois estes seriam movimentos
contrários ao que desejamos. Por esta razão, buscamos despertar a consciência, sensibilizar e
engajar. Sabemos que é um trabalho de longo prazo, pois não mudamos hábitos e cultura do
dia para a noite.


Nosso programa é baseado no diálogo e, nesta caminhada, investimos tempo e dedicação em
rodas de conversas, orientação e, sobretudo, na escuta ativa das pessoas. É por meio delas e
com elas que faremos a diferença. Afinal, a mudança de cultura passa pelo entendimento da
realidade do outro. Por exemplo, em um ambiente extremamente masculino, temos
conversado abertamente sobre a percepção e perspectivas das mulheres, medos e receios que
podem afetar diretamente sua segurança emocional e desempenho.


Nossa tarefa é garantir um modelo de gestão que permita cumprir todos os direitos, sobretudo
os humanos. Neste sentido, nosso Código de Conduta formaliza que não será aceita nenhuma
forma de discriminação e intolerância, assim como prevê mecanismo para prevenir assédio
sexual e moral.


Acreditamos que enquanto empresa somos uma célula da sociedade e que temos uma
importante função social. Seguimos neste caminho, pois é o correto a se fazer e, acreditamos
que desta forma, impactamos positivamente a vida das pessoas e a sociedade.
Um exemplo foi a evolução da licença parental, que no último acordo coletivo, também passou
a contemplar a licença remunerada em caso de adoção para a pessoa representante da família
em relação homoafetiva reconhecida. Ou seja, formalizando benefícios e direitos prezando
pela equidade e, todas as pessoas, independente da sua orientação afetivo-sexual, são
consideradas na nossa política parental. O mesmo se aplica ao auxílio-creche. Vale destacar
que a Samarco se diferencia neste quesito, com uma licença paternidade de 20 dias.


É assim, escutando e observando possibilidades de melhorias que pretendemos avançar. E a
cada passo, aumenta nossa responsabilidade, pois ver a adesão das pessoas, o entusiasmo e o
início da mudança, nos impulsiona, mas também nos desafia a fazer ainda melhor.


Por isso, ao olhar para o caminho percorrido até aqui, tenho certeza de que abrimos inúmeras
possibilidades para um futuro diferente. Aprendemos, desaprendemos e reaprendemos todos
os dias, pois nesta jornada não há certo ou errado pré-definidos, há descobertas, parceria e confiança para construir e trilhar novos caminhos, seguindo sempre adiante. Mais do que o
destino final, a jornada é o que vale a pena. Espero encontrar você nestes diversos caminhos!

Por Vera Lucia, gerente-geral de Desenvolvimento Humano Organizacional da Samarco

Foto: Washignton Alves