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Em abril deste ano, universidades e institutos federais declararam greve. As motivações principais seriam a recomposição salarial e orçamentária e a revogação das normas aplicadas durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) aderiu à greve a partir do dia 15 de abril. Os técnicos administrativos já haviam paralisado suas atividades desde 25 de março.
Em entrevista ao Diário de Ouro Preto, a professora do curso de Serviço Social desde 2015 e integrante do Comando Local de Greve da Associação dos Docentes da UFOP, Kathiuça Bertollo, declara a importância da luta dos professores e técnicos: “Se tivemos qualquer sinalização por parte do governo isso se deve ao movimento grevista que é forte e tem demonstrado que a luta é urgente e legítima.”
Os grevistas vêm lutando durante esse tempo em busca de melhorias para um ensino de qualidade. Desde 2016, o salário dos professores não foi ajustado, o que gerou uma defasagem de 22,71%, de acordo com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes). Além disso, o MEC recebeu um ajuste de 14,14% de 2023 para 2024, enquanto as universidades federais tiveram uma redução de 4,96%. Seguindo a proporção do ajuste do MEC, seria repassado aproximadamente mais R$886 milhões, mas o que aconteceu foi um corte de aproximadamente R$310 milhões.
O presidente Lula anunciou na última segunda-feira (10) o investimento de R$5,5 bilhões através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para expansão, consolidação de estruturas e hospitais universitários. De acordo com o ministro da Educação, Camilo Santana, as universidades federais também receberam o aumento de R$279,2 milhões para o custeio e de R$120,7 milhões para os institutos. Dessa forma, o orçamento de 2024 das universidades será R$6,38 bilhões, que representa um aumento de aproximadamente 7,23% em relação ao ano passado.
Em relação a esse cenário orçamental, Kathiuça pontua: “Essa intransigência por parte do governo, presente em todo o processo de negociação, tem desapontado aqueles que acreditavam que este atual mandato assumiria uma posição mais progressista em defesa da educação pública, especialmente no que se refere à recomposição orçamentária das Instituições de ensino.”
Uma das medidas de avanço anunciadas é a criação de um novo campus da UFOP em Ipatinga. Sobre isso, a professora pontua a necessidade de ajustes em campi já existentes, como a reforma das moradias estudantis em Ouro Preto e Mariana e construção das moradias em João Monlevade: “Para ampliar com qualidade é preciso sinalizar minimamente que o recurso destinado às estruturas já existentes será o suficiente para que não fechem as portas (…) É preciso prever a contratação de pessoal e a oferta da política de assistência estudantil aos novos campis e estudantes, e não sabemos como isso será implementado, haja vista que o direcionamento orçamentário até o momento não prevê tais questões.”
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Nesta terça-feira (11) aconteceu a mesa de negociação com os técnicos administrativos e na sexta-feira (14) acontecerá para os docentes. Estudantes de todo o país se organizam em caravanas para Brasília em busca de respostas satisfatórias do governo. Os grevistas consideram esses agendamentos fruto da luta e das manifestações recorrentes durante esses dois meses. Kathiuça demonstra que espera que haja uma mudança na postura do governo nessas mesas: “A expectativa é que percebam o equívoco das posturas assumidas em mesas anteriores e sinalizem algum respiro orçamentário e melhorias à educação superior pública que vivencia um expressivo desmonte há décadas e que, neste governo, infelizmente, não tem se mostrado como uma prioridade”, afirma.
Por Marcela Torres