Antônio Pereira – A Defesa Civil de Ouro Preto realizou nesta quarta-feira, 25/05, reunião entre a Vale e os moradores do distrito, na Escola Estadual Daura de Carvalho, presidida pelo secretário de Defesa Social, Juscelino Gonçalves. O Vereador Vander Leitoa e o diretor de Trânsito Jorge Kassis acompanharam a sessão. A nova área de mancha da barragem de Doutor, apresentada pela Vale, fez surgir questionamento sobre o critério utilizado para encontrar aquela área. Os ânimos se acirraram ainda mais quando o tempo da reunião estava por acabar, a reunião seguiu até às 21h.

No próximo dia 7/06 a comunidade se reunirá com os representantes do Ministério Público.

A Escola Daura de Carvalho era o cenário de mais uma reunião entre a comunidade e a empresa, frente a frente, ombro a ombro. Com grande público formado por famílias inteiras, inclusive as crianças pequenas e de colo. O pátio da escola estava cheio para uma reunião presencial, após 2 anos que moradores foram informados que haveria remoções em Antônio Pereira.

O Clima foi esquentando diante das perguntas não respondidas durante a apresentação da área de mancha. Mesmo sendo avisado que após a apresentação todos que quisessem questionar poderiam apresentar suas perguntas, a ansiedade de ter a dúvida respondida, claro, era externada em alto e bom som.

Quando foi aberta a palavra e as questões eram apresentadas pelos atingidos, o público comemorava e vibrava em torcida. A reunião presencial permitiu que as pessoas se identificassem umas com as outras e que manifestassem isso imediatamente. O comportamento foi se tornando uma pressão sobre os funcionários da empresa. A ponto de um morador, em sua fala, dizer que os funcionários da Vale sofriam aquela pressão da comunidade que estava em desabafo, afinal, há 2 anos não se debatia a mancha frente a frente.

As reivindicações de saúde mental, com a contratação psicólogos pediatras, remoção de remanescentes em ruas que já teve a vizinhança retirada, pedidos para ser reconhecimento como atingido pela área de mancha, reparação para os comerciantes, e a grande questão se houve trabalho de campo para se traçar a nova área de mancha, pois segundo os moradores tem lugares que o mapa mostra a linha determinando a área de mancha, mas o local estaria em declive.

Cada assunto um funcionário da Vale respondia. Sobre a contratação de médicos, Lucas Soares, gerente de territórios evacuados,explicou que a empresa tem convênio com o município, sendo de responsabilidade da Prefeitura a contratação dos profissionais da saúde mental, uma das queixas mais recorrentes.

As mulheres tiveram papel principal nas reivindicações. Dona Ivone, que teve suas ferramentas apreendidas na ação da Polícia Federal, reclamou que estávamos trabalhando”, disse que sua “bateia não é só instrumento de trabalho, ela é passada de pai pra filho”. Ela disse que criou os filhos com os recursos do garimpo. Dona Ivone disse ainda que a Vale não tem sentimento, que vai gravar vídeos protestando contra a empresa, e questionou a diminuição da área de mancha. “Eu tô revoltada, quero minha bateia de volta. Estou revoltada vocês prenderam trabalhador, minha mãe me criou para ser honesta, mas to vendo que a honestidade não tá valendo muita coisa não, vocês prendem os honestos e deixam os bandidos soltos, que é a Vale”.

Nota da Vale:


Redução da mancha de inundação da barragem Doutor permitirá o retorno de famílias e a reabertura do Clube Samisa

Ouro Preto, 26 de maio de 2022 – Mais de 40 edificações deixam de fazer parte da Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem de Doutor, na mina Timbopeba, em Ouro Preto, devido a redução de mais de 15% da mancha hipotética de inundação da barragem, o que corresponde a 13km². A mancha foi revisada pela Vale e validada, este mês, pela SLR, empresa auditora do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). O estudo levou em conta, entre outros fatores, a diminuição do volume de água devido à condição atual do vertedouro (ensecadeira), maior detalhamento do modelo e conhecimento do material do reservatório. As informações foram divulgadas ontem (25/05) pela Defesa Civil de Ouro Preto e pela Vale, em reunião com a comunidade de Antônio Pereira.

Com a redução, deixam de fazer parte da ZAS de Doutor mais de 40 edificações, incluindo residências e o Clube Samisa. Isso permitirá que famílias retornem às suas casas de origem, caso desejem, e que o clube retome suas operações. Avaliações em campo estão sendo realizadas pela Defesa Civil, em conjunto com a Vale, para precisar o número de famílias que deixam de ser impactadas pela mancha da barragem. Ciente dos efeitos dessas mudanças na rotina da comunidade, a Vale anunciou que irá discutir o retorno conjuntamente com cada família, respeitando seus interesses.

O atual desenho da mancha ainda prevê a realocação preventiva de duas famílias, uma em Antônio Pereira e outra na Vila Residencial Antônio Pereira, que já foram comunicadas e receberão todo o suporte da empresa no processo de escolha e mudança para moradias temporárias.

É importante ressaltar que não houve alteração na condição de segurança da barragem Doutor. A estrutura, que está em processo de descaracterização, permanece em nível 1 de emergência e é monitorada 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Reportagem e fotos: Marcelino de Castro